A pergunta parece estranha à primeira vista, já que Susan Richards (Invisible Woman) teve dois filhos (Franklin e Valeria), mas o leitor mais veterano sabe que Susan perdeu um bebê (que provavelmente seria Valeria), mas esse “erro” foi corrigido pelos poderes de Franklin (como? vamos relembrar mais adiante). No entanto, não estou me referindo a esse bebê, mas estou me referindo a outro, que simplesmente sumiu de cena e nunca mais foi mencionado… por quê? A resposta é meio perturbadora, mas é real… acho… hehe
Primeiro vamos falar sobre filhos de super-heróis – isso não era novidade quando Franklin nasceu, mas era muito pouco usual. Aliás, não só isso, mas até mesmo o casamento de Mister Fantastic e a então chamada Invisible Girl não era novidade, mas era pouco usual nesse meio. Obviamente, para os costumes da época (o casamento se deu em Fantastic Four (1961) Annual #3 (outubro/1965) e o nascimento de Franklin ocorreu em Fantastic Four (1961) Annual #6 (novembro/1968 )), era moralmente necessário casar antes de se ter um filho.
Franklin se tornou um personagem constante nas histórias do Fantastic Four, inclusive em uma história polêmica que causou a separação momentânea de Reed e Sue: mutante, com seus poderes psíquicos de alteração de realidade e a mente de uma criança de colo, Franklin era um risco que fez com que Reed o colocasse em um estado vegetativo (isso aconteceu em Fantastic Four (1961) #141 (dezembro/1973)). Eventualmente as coisas foram voltando ao normal, mas sempre com aquela ameaça dos poderes incomensuráveis de Franklin – no entanto, pode ter tido um efeito colateral nunca assumido, já que Franklin ficou anos sem “envelhecer”… hehe
Bem, alguns anos depois, esse assunto de “bebê fantástico” seria retomado na excelente fase de John Byrne escrevendo e desenhando as histórias do Fantastic Four. Como já falamos outras vezes, Byrne sempre gosta de uma abordagem “back to basics” (de volta ao básico), a partir do qual desenvolve novas situações criativas. Dentro dessa abordagem, fazia sentido termos um novo casamento (no caso entre Johnny Storm e Alicia Masters [era uma skrull, na verdade, mas isso não foi obra de Byrne) e um novo nascimento – sim, Franklin ganharia uma irmãzinha! Só que… Byrne cometeu a ousadia de contar a história de um aborto acidental.
Sim, o bebê foi contaminado por uma quantidade inimaginável de radiação antimatéria da Negative Zone, combinada com a própria radiação cósmica que deu os poderes aos pais e a Franklin. Nem o auxílio dos maiores especialistas em radiação do Universo Marvel (Walter Langkowski (Sasquatch), Bruce Banner (Hulk) e Otto Octavius (Doctor Octopus)) – isso aconteceu em Fantastic Four (1961) #267-268 (junho-julho/1984).
Aí, alguns anos depois, tivemos o megaevento Onslaught, no qual o Fantastic Four e uma parte dos Avengers foram dados como mortos para derrotar o vilão (o próprio Onslaught). Todos já sabemos que esses heróis foram “recriados” por Franklin Richards que, usando seus poderes, criou uma realidade alternativa, em que suas cronologias foram zeradas – era a realidade de Heroes Reborn.
Heroes Reborn foi uma “terceirização” desses personagens para os estúdios de Jim Lee e Rob Liefeld, que haviam deixado a Marvel para formar a editora Image. O objetivo era revigorar as franquias, que perdiam interesse dos leitores. A experiência durou 13 meses (Jim Lee assumiu tudo da metade em diante) e teve algumas partes interessantes (principalmente no material produzido por Lee). Na série de Fantastic Four, Mister Fantastic e Invisible Woman não chegaram a se casar, mas, na edição #11 (setembro/1997), por Jim Lee e Brett Booth, Sue informou Reed de que estava esperando um bebê. Isso fez com que Reed a pedisse em casamento na edição #12 (outubro/1997) enquanto enfrentavam Galactus.
Muito bem, poderia até ser uma nova versão de Franklin Richards ali, mas a série terminou na edição #13 (novembro/1997) e os heróis voltaram ao Universo Marvel principal (o 616). Quando a série Fantastic Four foi reiniciada em janeiro de 1998, por Scott Lobdell (roteiro) e Alan Davis (arte), nada foi mencionado. E se continuou não mencionando nada em seguida, inclusive quando Chris Claremont e Sal Larroca se tornaram a nova equipe criativa da revista.
Claremont até mesmo introduziu uma Valeria adolescente de um futuro alternativo, em que era filha de Sue e Doctor Doom! Essa Valeria ficou um bom tempo associada ao Fantastic Four, adotando o codinome de Marvel Girl. Isso até as coisas mudarem na fase do Fantastic Four escrita e desenhada pelo espanhol Carlos Pacheco – aí se revelou que ela era a MESMA bebê perdida por Sue no passado, mas que Franklin, com seus superpoderes, a salvou e a transferiu para outra realidade, onde foi curada por Doctor Doom. Após essa revelação, Franklin alterou pontualmente a realidade/cronologia 616, ao regredir a idade de Valeria e “reinseri-la” no útero de sua mãe, para que nascesse saudável (!!??!).
Daí em diante, Valeria cresceu e se tornou uma personagem relevante na franquia, com sua superinteligência precoce e, finalmente, tudo estava resolvido, e os dois irmãos estavam saudáveis, certo? Certíssimo… maaaassss…. e aquele bebê de Heroes Reborn? Aquele do qual nunca mais se falou? Ninguém sabe, ninguém viu.
A Marvel simplesmente apagou o fato e seguiu em diante. O que se pode elucubrar a partir daí é a mesma coisa que foi mostrada em Avengers (1997) Annual 2001 (setembro/2001), em um backup produzido por Kurt Busiek e Ian Churchill no qual se resolviam “pepinos” cronológicos em geral dos Avengers. Lá soubemos que os Avengers que voltaram modificados de Heroes Reborn (Iron Man, Wasp e Hawkeye) foram, na verdade, resultados da fusão da versão anterior com a versão “recriada” por Franklin Richards. Confuso? Franklin “recriou” os heróis usando as versões que ele conhecia, ignorando modificações mais recentes que tivessem sofrido. Assim, extrapolando essa situação, podemos concluir que o bebê não nascido desapareceu quando Franklin “fundiu” sua mãe anterior a Onslaught e a versão “recriada” – como Sue Richards não estava grávida antes de Onslaught, presume-se que essa versão prevaleceu no resultado final. A Marvel nunca admitiu isso, mas faz sentido dentro do contexto. Resolvido? Podemos dizer que sim, mas que é incômodo, é, afinal, uma vida foi eliminada por uma criança superpoderosa sem nenhum remorso. Brrr…
Fontes:
Revistas referidas