Fantastic Force: O início e o fim da carreira de roteirista de Tom Brevoort – parte 1

Quem acompanha a Marvel regularmente conhece o nome de Tom Brevoort, que está sempre presente em panels de convenções de quadrinhos e dá entrevistas para a mídia. Brevoort entrou na Marvel em 1989 como estagiário não remunerado e foi crescendo dentro da empresa, como editor assistente e editor, tendo sido editor dos títulos de Avengers e Fantastic Four por um longo período, continuando nesse cargo até mesmo quando se tornou editor executivo da Marvel em 2007. O editor executivo é um cargo imediatamente abaixo do editor-chefe, e ele continua nesse cargo até hoje, mesmo depois de também ser indicado para ser vice-presidente sênior de publicação em 2011 (aí deixando de editar as revistas diretamente). Portanto, é uma figura bem conhecida e bem importante dentro da empresa.

Por outro lado, temos uma antiga “tradição”, de que vários roteiristas dos comics eram geralmente fãs de quadrinhos que entraram nos bastidores e começaram sua carreira como… editores assistentes ou editores. Assim, era de se esperar que Tom Brevoort, com uma atuação nessa área. Isso era meio natural porque os editores participavam de todo o processo de criação, produção e montagem das revistas e, assim como goleiros geralmente têm boas chances de se tornarem técnicos de futebol por enxergarem todo o time durante os jogos.

Brevoort teve sua oportunidade, mas em um momento não muito propício, já que a moda da época envolvia estilos bem rasos. Sim, estamos falando dos anos 1990, que são geralmente motivo de muita piada e lembranças bizarras… hehe

Já falamos aqui no blog, na coluna A Bit o’ Navel, de que essa “lenda” de que o material dos anos 1990 era todo “descartável” e “péssimo” não é totalmente verdade. Houve materiais excelentes nessa época, e que se tornaram clássicos até hoje… mas, sim, também houve muita tranqueira, que também existe em todas as épocas… hehe. De qualquer forma, os anos 1990 tiveram uma coincidência de que o que era tosco ou fraco vendia muito. Foi um período em que se vivia a bolha especulativa dos comics, em que muitos colecionadores compravam várias cópias de revistas para especular em revenda (principalmente com o estímulo de capas variantes, cromadas, metalizadas, cards de brinde, etc). Mesmo editoras menores e independentes vendiam muito bem também – e, por isso, as editoras possuíam linhas enormes de séries saindo todos os meses. Com esse excesso de oferta, obviamente mais gente foi contratada (para escrever e desenhar), e o padrão geral caiu. Eventualmente a bolha estourou, e a Marvel quase faliu (não só por isso, mas também), assim como várias outras editoras menores fecharam ou tiveram de mudar seus modelos de negócio.

Muitos especialistas apontam a “imagização” do mercado como o grande culpado por isso – um grupo de astros desenhistas da Marvel resolveu fundar sua própria editora (Image), valorizando mais o visual do que o texto (afinal, eram desenhistas originalmente). A Image foi um sucesso enorme e esse estilo se espalhou por todas as outras. É verdade até a página nove… já que, sim, a “imagização” criou essa coqueluche no mercado, ditando as tendências, mas esses artistas já haviam começado a fazer isso na Marvel, assim como a DC e outras editoras já estavam embarcando nesse rumo – ou seja, os criadores da Image apenas incrementaram e amplificaram a tendência.

Então foi nessa época que Brevoort recebeu sua chance como roteirista e… bem… não deixou saudades. Aliás, Brevoort nem mesmo fez os roteiros sozinho – ele fez parceria com o roteirista Mike Kanterovich, que vinha da Archie Comics. Essa parceria fez algumas histórias isoladas de Spider-Man, Sleepwalker e Secret Defenders, além de algumas edições de licenciamentos publicados pela Marvel (Mad Dog e Double Dragon). A dupla, porém, teve uma série exclusiva sob seus cuidados: Fantastic Force (1994), que durou 18 edições (novembro/94-abril/96), com arte do italiano Dante Bastianoni (desenhista do fumetto (quadrinho italiano) Nathan Never).

Essa é a primeira Fantastic Force da Marvel (houve uma mais recente, nos anos 2000, com um conceito muito mais elaborado, por Mark Millar, e sem relação com a anterior). Pelo nome, já se vê que estava nessa vibe da época, de criar versões “militarizadas” ou “extremas” de equipes de super-heróis, geralmente com a palavra “Force”. Fantastic Force não era militarizada, mas tinha uma postura mais assertiva e arriscada que o Fantastic Four original.

A equipe foi criada por Tom DeFalco, então ainda editor-chefe da Marvel e que escrevia a série de Fantastic Four há anos (DeFalco ficou na revista entre 1991 e 1996), onde criou vários personagens, entre heróis, vilões e coadjuvantes, como também fez em seu período na revista de Thor (onde ficou entre 1987 e 1993).

Em Thor, DeFalco criou a equipe dos New Warriors, que foi um sucesso na primeira metade dos anos 1990 e criou uma base fiel de fãs até hoje. Esse resultado empolgou DeFalco a criar outra equipe adolescente – Fantastic Force. A ideia era criar uma versão “New Mutants” do Fantastic Four, com heróis adolescentes sendo “treinados” para assumir a equipe no futuro. Até aí, nada de muito diferente do que se vê por aí, sendo até um recurso comum em universos compartilhados. A questão é como isso aconteceu – e, no final das contas, DeFalco acabou “substituindo” a equipe original por essa nova… bom, mais ou menos.

Vamos ver como isso aconteceu na segunda parte deste post.

Fontes:

Revistas referidas

 

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