Um dos conceitos mais criativos da Marvel é a série What if, que mostra o que aconteceria diferentemente se a cronologia se desviasse em determinado momento. Ou melhor, esse era o conceito da proposta original – depois isso foi expandido para outros exercícios criativos, envolvendo os personagens atuando em situações inusitadas – e assim foi se consolidando, com duas longas séries nos anos 1970 e 1980-1990 e depois muitos especiais nos anos 2000 e 2010.
Esse tipo de história alternativa não era novidade em 1977, quando a Marvel lançou a primeira série regular de What If – afinal, a DC já tinha suas “histórias imaginárias” ocorrendo nas revistas há muito tempo… e esse conceito ainda sofreria outro conceito bastante criativo (o dos Elseworlds, com histórias situadas em outros momentos históricos), mas o que diferenciava era justamente a exploração profunda da cronologia e, muitas vezes, “explicando” por que era melhor os fatos terem ocorrido como aconteceram. Porém, havia outra coisa que ainda continua forte até hoje: o teor “profético” das histórias de What If, que podiam apontar coisas que aconteceriam no futuro (ou seja, se tornaram arquivo de ideias para roteiristas mais preguiçosos… hehe).
Assim sendo, hoje temos muitas coisas que aconteceram recentemente ou estão acontecendo que foram “previstas” lá atrás em histórias de What If. Mas, essa situação se tornaria mais “surreal” quando sugeriria pautas para outras mídias – é o que aconteceu com os dois primeiros filmes de Conan – e vamos explicar por quê aqui.
Antes de tudo, por que Conan foi retratado na série What If? Pode parecer estranho para quem não “conviveu” com Conan, Red Sonja e Kull enquanto suas histórias saíam pela Marvel (sim, Conan retornará em 2019, depois de quase 20 anos, mas só ele voltará, por ora). Nessa época, não havia dúvida de que esses personagens faziam parte da cronologia do Universo Marvel – e, de fato, faziam. A Era Hiboriana e a Atlântida de Kull eram parte do passado distante dessa cronologia e até vilões criados para suas histórias apareciam em outras séries da Marvel, como Shuma Gorath e Kulan Gath.
Embora fossem “cronologia”, porém, havia quase uma “barreira” nessas histórias, já que seu alcance era pequeno. Mas, mesmo nessa situação “sui generis”, não havia por que não incluir esses personagens no conceito de What If. Mesmo assim, só Conan teve essa “honra”, aparecendo algumas vezes (em uma delas, até se sugeriu que Conan fosse antepassado de… Thor!). E, na primeira vez, a história fez tanto sucesso que gerou OUTRO What If derivado – um What If desse What If! hehe
Conan era um grande sucesso da Marvel na época e os fãs pediam o aparecimento do bárbaro na revista What If, inundando a redação de cartas – assim, não tinha jeito a não ser responder ao “clamor popular”. Dessa forma, a primeira aparição de Conan na série What If foi em What If (1978 ) #13 (fevereiro/1979), produzida pela equipe criativa “oficial” de Conan: Roy Thomas e John Buscema. Essa história se referia a um arco ocorrido na magazine Savage Sword of Conan (1974), nas edições #5-7 (abril-agosto/1975), em que Conan teve acesso ao poço místico do “Centro do Tempo”, no qual teve visões do futuro da humanidade (o nosso passado). Na história, Conan conseguiu escapar de cair no poço e continuou na Era Hiboriana – a história What If mostrava o que aconteceria se ele caísse no poço e fosse transportado para o futuro!
O “futuro” era, convenientemente, a Nova York de 1978 e o What If se chamava “O que aconteceria se Conan aparecesse hoje?” Seguiu-se o óbvio confronto entre realidades (12.000 anos a.C. contra 1978 d.C.), até que Conan se encontrou com seu “par romântico” (que era uma constante em suas histórias) – no caso, uma motorista de táxi (?!) chamada Danette (e eu fico na dúvida aqui – o roteirista Roy Thomas já namorava sua futura esposa na época? estou falando de Dann Thomas, conhecida na época como Danette Couto? Porque, sinceramente, Danette não é um nome tão comum assim). Bem, Danette levou Conan para seu apartamento (claaaaroo… é assim que se faz com um sujeito seminu com uma espada achado no meio da rua querendo destruir seu carro) e se apaixonou por ele (simples assim).
Thomas aproveitou outro “fato marcante” da época – o blecaute de Nova York de 1977, um dos mais famosos e extensos da história. Assim, um “novo” blecaute ocorre em Nova York, com Conan enfrentando as gangues de rua e os saqueadores que infestaram a noite novaiorquina, enquanto seguia para o Museu Guggenheim, onde um fenômeno místico o levaria de volta à sua época. E isso aconteceu de fato, pois Conan retornou à Era Hiboriana no fim dessa história.
Essa história foi outro grande sucesso, e os fãs agora queriam que se mostrasse o “What If do What If” – ou seja, o que aconteceria se Conan tivesse ficado preso em 1978? Peter Gillis (roteiro) e Bob Hall (arte) produziram essa história em What If (1978 ) #43 (fevereiro/1984), com o título de “O que aconteceria se Conan ficasse preso no século 20?”. A história também poderia ser continuada facilmente, já que mostrou Conan se tornando o chefe de uma gangue e, por isso, tendo de enfrentar Captain America, com tal confronto resultando em dúvida quanto às más decisões que tomou – no entanto, ele continuou preso no século 20.
Muito bem, e qual foi a “profecia” feita “sem querer” por essas histórias de What If? Essa “profecia” aconteceu na primeira história (What If (1978 ) #13), em que, logo que Conan chega ao presente, é confundido com… Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone! Na época, qualquer brucutu musculoso seria “parecido” com esses dois, que dominaram os filmes de ação nos anos 1980, mas até então, Stallone tinha ganho o Oscar com o filme Rocky (1976) e Schwarzenegger era um dos fisiculturistas mais conhecidos do mundo – ganhou o título de Mister Olympia por 7 vezes (ganharia a oitava em 1980).
E, claro, mesmo que você tenha nascido anteontem, sabe que Schwarzenegger interpretou Conan nos dois filmes dos anos 1980 (em 1982 e 1984), o que, aliás, lhe abriu as portas de Hollywood… assim, Roy Thomas profetizou que Conan seria “interpretado” por Schwarzenegger! Ou será que foi ele que deu a deixa para a equipe de produção dos filmes? hehe
E, se tivéssemos uma nova continuação dessa história, após a sequência de Gillis/Hall… será que Conan se tornaria governador da Califórnia?? hehe Schwarzie chegou lá… hehe
Fontes:
Revistas referidas