Diamondback (Rachel Leighton) é uma personagem da Marvel que sofre da síndrome do personagem Sandoval Quaresma, da Escolinha do Professor Raimundo – sempre na hora de tirar o dez, errava!
Criada por Mark Gruenwald e Paul Neary, em Captain America (1959) #310 (outubro/1985), ela tinha função de ser mais uma vilã temática do sindicato de supervilões Serpent Society, também criado pela mesma dupla. E, bem, a temática era bem tangencial. “Diamondback” é o nome em inglês de uma das espécies de cascavel dos desertos americanos – “cascavel-diamante” em português. Mas a única semelhança dessa Diamondback com uma cascavel era que ela atirava dardos em forma de diamante, basicamente afiados e/ou pontiagudos, mas também com outras capacidades (explosão, gás, ácido, etc).
Rachel Leighton é o segundo personagem da Marvel a ter o codinome Diamondback – o primeiro é um famoso inimigo de Luke Cage (que inclusive apareceu na série do herói no Netflix) que, na versão dos quadrinhos, era mais temático que Rachel. Enfim, Diamondback era provavelmente uma “bucha de canhão” que Gruenwald colocou no grupo de vilões para dar volume, mas sem grandes planos de desenvolvimento – era apenas uma criminosa sedutora e dissimulada, que estava sendo treinada por Anaconda – essa, sim, um dos destaques do grupo. Se precisasse descartar algum personagem, Diamondback estaria no pacote, certamente. Só que Gruenwald ficou anos escrevendo Captain America e… os planos mudaram e, com isso, a personagem sofreu um grande desenvolvimento.
Esse movimento de mudança começou a se esboçar quando Diamondback se recusou a enfrentar Captain America, ou quando até tentou se aliar a ele contra o assassino de vilões (Scourge of the Underworld).
Mas a grande mudança veio quando Gruenwald contou a história de um “golpe de Estado” dentro da Serpent Society, em que o antigo líder Sidewinder (também outro tipo de cascavel) foi deposto, e Diamondback foi um dos poucos que se manteve fiel a ele. Diamondback pediu a ajuda de Captain America e seus aliados para resgatar os outros membros da “resistência” e, depois, se resolveu a situação política dentro do grupo, de onde Diamondback logo se desligou… por quê? Porque a semente da “regeneração” havia sido plantada.
Diamondback logo se aproximou de Captain America, tentando ganhar sua confiança em team-ups em aventuras… até que conseguiu o primeiro encontro, e parecia estar sendo engatado um novo romance (que ela contava com o apoio das colegas de Serpent Society Black Mamba e Asp). Isso obviamente teve consequências: ela foi capturada, julgada e condenada à morte por traição pela Serpent Society, tendo sido resgatada por Cap.
Diamondback, Black Mamba e Asp formaram um grupo de investigadoras particulares (ou heroínas ou ladras “do bem”, dependendo do caso), chamado BAD Girls, Inc. (o “BAD” em maiúsculo pois são as iniciais do trio). Mas Diamondback acabou se envolvendo com a vilã ultrafeminista Superia e até assassinou a vilã Snapdragon… e aí começou o grande drama.
Diamondback vivia um grande drama romântico – ela queria conquistar o coração de Captain America e ser uma heroína, mas seu passado de criminosa parecia sempre arrastá-la de volta para o crime ou a vilania. Agora, com a morte de Snapdragon, ela acrescentava ainda mais drama a isso, principalmente porque Cap também se martirizava pela morte acidental de um agente da ULTIMATUM (organização do vilão Flag-Smasher) que ele causou – como resolver essa questão?
O drama existencial de Diamondback começou a ser revelado por Mark Gruenwald ao destrinchar o passado mais distante de Rachel – ela e seus irmãos foram delinquentes juvenis, em uma gangue liderada por Brock Rumlow, aquele que viria a se tornar o vilão Crossbones (geralmente associado ao Red Skull). Não bastasse isso, Rumlow matou um de seus irmãos e ainda estuprou (!!) e abusou de Rachel! E mais, o irmão sobrevivente de Rachel se tornou o vilão Cutthroat, que trabalhava para o Red Skull, na tentativa de se vingar. Olha que “novela mexicana” Gruenwald desenvolveu!
O fato é que todo esse imbróglio acabou inviabilizando o romance, e Diamondback até mesmo chegou a atuar como heroína, seja sozinha ou com as BAD Girls, Inc. Mas foi infectada por nanossondas de controle mental por conspiradores, o que a levou a cometer novos crimes, até que o herói Citizen V derrotou o grupo. Diamondback ficou neurologicamente abalada e sob custódia da SHIELD.
Aparentemente se recuperando, Diamondback conseguiu retomar o romance com Captain America, mas foi morta pelo Red Skull… bem, na verdade, quem morreu foi um LMD (Life Model Decoy, um androide perfeito), que a substituiu enquanto ela ainda se recuperava – a verdadeira Diamondback havia superado o romance…
Diamondback então entrou para a Initiative, programa estatal de super-heróis dos EUA, inicialmente no grupo de infiltração e, depois, tornando-se até mesmo líder de uma equipe (Women Warriors, do estado do Delaware). Essa curta fase foi seguida por um período em que ela foi uma das líderes da Initiative, engatando um romance com o vilão mercenário Constrictor (então interessado em se regenerar)… tudo parecia resolvido, maaaaassss… Constrictor viu Diamondback e Captain America conversando animados e… achou que estavam se entendendo de novo… e o romance acabou.
Diamondback ainda atuou como agente de SHIELD e, mais recentemente, voltou ao crime, em uma nova encarnação da Serpent Society, apenas para traí-la de novo em favor dos heróis. Então, pela enésima vez, Diamondback chegou perto… mas na hora H, falhou.
No que a personagem falha afinal? Em se definir, seja como heroína, ou como vilã (e, com isso, em se tornar uma personagem de destaque); em definir suas relações amorosas; em definir suas razões de ser e existir como personagem. Mark Gruenwald criou a personagem para ser coadjuvante, começou a se interessar por ela e desenvolver um passado detalhado e a definir caracterizações e motivações, através de seus dramas pessoais, para, depois disso… nada.
É verdade que Gruenwald faleceu logo depois de deixar de escrever Captain America e, aparentemente, os roteiristas que trabalharam com a personagem não tinham o mesmo interesse nela. A única dupla que demonstrou interesse, investindo mais na personagem – Dan Slott e Christos Gage, que coescreveram a série Avengers – The Initiative (2008 ) – aparentemente quiseram dar o mesmo fim trágico de azar romântico à personagem (e isso provavelmente pelo “humor negro” de Slott).
Se Gruenwald não tivesse falecido precocemente, é muito provável que a história de Diamondback fosse outra, e ela pudesse ter tido o destaque que Songbird e Moonstone têm hoje (já tiveram mais no passado, mas gozaram de mais destaque que Diamondback). Diamondback é uma das personagens que foi bem até quase se consagrar/estabelecer, aí escorregou… e aconteceu isso mais de uma vez… quem sabe da próxima?
Fontes:
Revistas referidas
Official Handbook of the Marvel Universe
Wikipedia