Como vimos na segunda parte do post, Gruenwald achava que o New Universe seria apenas um experimento e se encerraria lá pela edição 12 (algumas séries já haviam sido canceladas, como Kickers Inc. e Marc Hazzard – Merc). Portanto, não havia plot planejado para além da edição 13. Isso teria reflexos patentes pelo restante da série, e teria de ser resolvido logo.
Gruenwald tinha condição de tirar isso de letra, pois era um roteirista experiente (embora tenha mantido a distância de apenas uma edição para desenvolvimento do plot – ou seja, ele escrevia o plot da continuação da história apenas depois que terminava a edição anterior), mas cabe aqui ressaltar que, mesmo parecendo ser uma produção moderna, havia ali uma série de “vícios”, principalmente aqueles que agradavam a Jim Shooter – que eram de sempre incluir dilemas pessoais nas histórias dos personagens, para conferir “profundidade” às caracterizações.
Gruenwald extrapolou nisso em toda a série, não só nessas edições iniciais “planejadas”, de forma que a leitura se torna chata e incômoda quando se martela sempre as mesmas coisas – como, por exemplo, o amor não correspondido entre Friction e Antibody (inclusive com uma leve discussão racista), a saudade dos filhos e do marido que aflige Glitter, o amor platônico e adolescente de Mastodon por Glitter e daí por diante.
A falta de planejamento também se refletiu na constante mudança de plots da série, que foi se tornando cada vez mais uma história de super-heróis. Passamos para uma fase em que os DP7 administram a clínica (e, inclusive, lidando com a formação de gangues que provocam conflitos), depois se envolvem com o evento The Pitt, a clínica é desativada, os membros do sexo masculino são alistados no Exército para uma eventual guerra contra a URSS (evento The Draft) e as mulheres se tornam agentes da CIA (?!?) e, finalmente, Twilight morre, Mastodon e Antibody desertam, Glitter se separa do marido e todos tentam nova vida em Nova York, onde encontram um curandeiro que “cura” alguns deles.
Novos personagens foram incluídos, como Mutator e Sponge, um membro veio da equipe Psi-Force, e até Jenny Swensen (que pilotava a armadura tecnológica Spitfire, com título próximo, já cancelado) se juntou ao grupo e sofreu mutação, tornando-se uma mulher com pele metálica e superforça, com codinome Chrome. E Chrome até começou a atuar como super-heroína com um tal Captain Manhattan.
E isso também foi outro problema complicador: Gruenwald acrescentou uma grande quantidade de novos personagens, que tornou toda a série difícil de gerenciar. Com isso, pode-se ver que se perdeu totalmente a espinha dorsal da série. DeFalco até propôs uma “repactuação” do New Universe quando assumiu como editor-chefe, mas Gruenwald praticamente ignorou.
Mesmo com tantos problemas, Gruenwald abordou temas ousados para a época, como eutanásia, abuso de menores, militarismo, AIDS (que estava no auge da paranoia), apesar do rame-rame psicológico exagerado dos dilemas pessoais dos personagens. E isso contrastava com algumas abordagens mais infantis e ingênuas de alguns personagens ou situações, que era denunciada pelos diálogos ou pelos próprios pensamentos de dilema de cada personagem.
Gruenwald e Ryan (ambos falecidos atualmente) adoravam seus personagens, mas nem isso salvou DP7 do cancelamento – e até, inclusive, na edição final, fala-se que a despedida é apenas da “versão mensal” da revista. De fato, Paul Ryan disse mais recentemente que havia planos de uma minissérie e uma graphic novel de DP7, a serem produzidas pela dupla. Infelizmente, Gruenwald faleceu antes de concluir o plot desse material.
Houve um revival de DP7 em um one-shot em 2006, mas, apesar de Ryan ainda estar vivo, a produção ficou com C.B. Cebulski e M.D. Bright, com um resultado morno.
DP7 não chegou a ser “rebootado” na série Newuniversal, de Warren Ellis, mas poderia ter alguns personagens “importados” para o Universo Marvel atual, assim como já aconteceu com Starbrand, Nightmask e Spitfire (que se suspeita ser Pod, dos New Avengers).
Fontes:
Revistas referidas
HOWE, Sean – The Untold Story of Marvel Comics
SANDERSON, Peter – Marvel Chronicle
Wikipedia