“Como uma deusa”… a verdadeira primeira mutante do Universo Marvel?

Durante a Copa da Rússia, fizemos um Umbigo Coletivo sobre Selene, a Black Queen, considerando que ela era uma personagem do tipo que “pode tudo, mas é sempre derrotada” – em suma, uma personagem com caracterização vaga, mas superpoderosa – um clichê de “supervilão definitivo”, mas que sempre se deixa derrotar por um detalhe. Porém, como o Umbigo Coletivo é uma série de posts mais rápida e espontânea, deixamos de lado um veio de análise ainda maior para ser explorado – e é o que vamos ver aqui agora.

De fato, Selene foi criada por Chris Claremont e Sal Buscema de uma forma bem genérica mesmo – era uma mutante adorada como deusa em uma colônia esquecida de Roma (Nova Roma) no meio da Amazônia, descoberta pela mãe de Sunspot (que era arqueóloga, por coincidência), em um arco de New Mutants (1983). Claremont tinha grandes planos em longo prazo para a personagem, que se tornaria um dos principais inimigos dos New Mutants e envolveria até mesmo ligações familiares com um dos membros da equipe – Magma (aliás, esse arco foi feito para introduzir as duas personagens). Porém, os roteiristas que assumiram a revista depois de Claremont foram tendo outros planos e a coisa se perdeu, assumindo outros rumos.

Por essa razão, Claremont definiu que Selene era uma mutante que era adorada como deusa (da mesma forma que acontecia com Storm, dos X-Men)… mas, mais adiante, acrescentou que ela tinha uma rivalidade multimilenar com o feiticeiro Kulan Gath. Acontece que Kulan Gath era um feiticeiro da era hiboriana (sim, a era de Conan e Red Sonja)… que é situada na cronologia Marvel em 12.000 anos antes de Cristo. Ora… se ela já existia nessa era, então o primeiro mutante a surgir na cronologia do Universo Marvel não foi Apocalypse (que apareceu na era da Civilização Egípcia – ali em 6.000-5.000 anos antes de Cristo), certo?

A constatação não teve lá tanta força, porque Kulan Gath foi para o limbo editorial (depois que a Marvel perdeu os direitos de Conan e Red Sonja) e a Marvel resolveu trilhar outros rumos com a personagem – o roteirista Fabian Nicieza até mesmo fez um retcon (depois desfeito por Claremont), dizendo que Nova Roma era uma farsa, criada por Selene para ser adorada como deusa. Mas, graças à descrição inicial da personagem, feita por Claremont, era uma deusa com poderes diferentes da “original”…

De fato, existiu uma deusa Selene na mitologia grega – era a deusa da Lua, filha dos titãs Hipérion e Geia, e que tinha como características a sabedoria, a onisciência e a beleza dos cabelos – como todas as divindades do Sol e da Lua dos panteões antigos, ela percorria a abóbada celeste com uma carruagem (simulando os movimentos da Lua). Mas Selene era uma divindade “menor”, que logo foi substituída por outras mais “fortes”: Ártemis e Hécate, com as quais alguns estudiosos atribuem uma forma de “trindade”. No entanto, dessas 3, apenas Selene era deusa exclusiva da Lua – e, talvez por isso, não tenha tido uma base de adoração muito grande: parece que houve apenas um culto organizado (e masculino) de Selene na Frígia, uma região da Anatólia (atual Turquia) que, na verdade, contribuiu muito para a mitologia grega com seus próprios deuses, que foram “miscigenados”.

Então, como se pode ver, a Selene “real” nada tinha a ver com a dos quadrinhos, e não seria a primeira vez que Claremont fazia isso – aliás, isso era uma prática que vinha desde outro roteirista importante, Roy Thomas: seu grande conhecimento literário fazia com que usassem nomes de personagens de obras literárias ou mitológicas que “soassem bem” para seus personagens de quadrinhos.

Claremont queria que Selene fosse uma mutante que pretendia se tornar uma deusa de fato – ou que atuara como uma deusa no passado e pretendia resgatar essa condição. Além disso, Selene era uma grande feiticeira (e daí sua rivalidade com Kulan Gath) e isso levava ao mesmo problema que se tem, até hoje, com Apocalypse: o que é a mutação e o que é magia ou tecnologia avançada?

No caso de Selene, parece que o fato de ser uma “vampira psíquica” seria seu poder mutante… mas não se tem certeza disso. No entanto, é uma habilidade mostrada por outros mutantes do Universo Marvel. Selene precisa, portanto, absorver a “energia psíquica” de outros humanos para se nutrir e se manter jovem. Se a absorção for completa, a vítima se torna uma pilha de pó… se for incompleta, ela pode controlar mentalmente sua vítima.

Selene também pode hipnotizar outras pessoas (o que pode ser místico), além de controle absoluto sobre a estrutura molecular de objetos inanimados (hein?!!). Depois, até mesmo chegou a demonstrar um poder de se transformar em energia sombria (a “darkforce” do Universo Marvel), e realizar várias proezas – o que foi abandonado. Isso sem falar dos encantos e feitiços que pode conjurar, sendo que muitos desses poderes e habilidades anteriores podem ser místicos ou resultados de sua mutação… quem sabe?

Ah sim, afora isso, ela também possui o pacote de superpoderes básico de aumentos de força, agilidade, resistência, vigor e velocidade. Ou seja, pode quase qualquer coisa. Como uma vilã desse jeito pode ser derrotada (e o é com frequência)? E, com tudo isso, para quê teria a obsessão de se tornar uma deusa?

O roteirista Fabian Nicieza pareceu tentar resolver a questão de quem era o primeiro mutante – para isso, criou o conceito de Externals – mutantes milenares que são imortais ou têm habilidades que permitam reviver ou sobreviver por longuíssimos períodos. Selene era um deles e, pensava-se que Apocalypse também seria (ou seja, abria-se a possibilidade de ele ser mais antigo que o que se pensava). Mas o roteirista Jeph Loeb acabou com a esperança, ao revelar que Apocalypse não era um External e, para completar, o roteirista Terry Kavanagh mostrou que o vilão realmente surgiu durante a Civilização Egípcia (contou até a origem de En Sabah Nur, o futuro Apocalypse, em uma minissérie chamada Rise of Apocalypse (1996))! A confusão continuava, e não importava muito, pois definia-se Apocalypse como o “primeiro mutante” e ponto final.

Apenas mais recentemente, no evento Necrosha (2009), é que os roteiristas Chris Yost e Craig Kyle revelaram que Selene não só existia na era hiboriana, como ainda antes disso – situaram sua origem na Europa Central, em 17.000 anos antes de Cristo, um pouco depois da submersão da Atlântida! Então, a menos que exista algum External mais velho que isso, ela é a “primeira” mutante do Universo Marvel (Apocalypse sofreu um retcon bizarro recentemente em que parece retomar a primazia, tendo regredido até a Pré-História, mas para fazer isso, ele estava no presente – eu disse que era bizarro… hehe).

Necrosha (2009) também concretizou o antigo sonho que Selene tinha de se tornar uma deusa, mas, como sempre, um detalhe fez com que conquistasse essa condição e logo depois a perdesse. Desde então, vem tentando se manter em posições de poder (inclusive dentro do governo americano).

Mas há um detalhe que não foi mais retomado – e poderia render situações interessantes. Lembra quando falamos que o culto a Selene nunca foi popular na Antiguidade? No Universo Marvel, parece que isso foi diferente porque, inclusive, Selene chegou a Nova York e se tornou membro do Hellfire Club (como a Black Queen) porque alguns membros do Hellfire Club faziam parte de um culto que a adorava! Ora, onde está esse culto em Nova York? Foi dizimado, ainda existe? Nenhum roteirista retomou isso (até os Externals já voltaram)… quem sabe agora? hehe

Fontes:

Revistas referidas

Official Handbook of the Marvel Universe

Wikipedia

 

Wolverine ensina: faça o que digo, não faça o que eu faço

Há algum tempo fizemos posts aqui sobre os Avengers aceitarem alguns assassinos, mas questionarem outros – e Wolverine estava nessa lista, junto com Black Widow, Deadpool, Winter Soldier e outros. Alguns roteiristas volta e meia entram nessa discussão, até mesmo ignorando o passado dos heróis. E isso também se reflete em outras equipes de heróis, como veremos nos X-Men aqui.

Chris Claremont, o “X-Meister” (roteirista que foi um dos responsáveis por iconizar os mutantes da Marvel), entrou nessa discussão em um arco de três edições em Uncanny X-Men (1963) (julho-setembro/1986), em que ele juntou alguns de seus plots pendentes em um arco interessante, com debates interessantes (no gosto do padrão de “conflitos internos” que o editor-chefe Jim Shooter adorava), e abrindo uma nova ponta solta – que seria resolvida em outra série (Excalibur (1988 )). No final das contas, era um arco “limpatrilho”, para deixar tudo zerado para o evento que viria logo em seguida: o Mutant Massacre.

Esse debate girava em torno justamente do que falamos no início do post: Rachel Grey queria matar Selene, então Black Queen do Hellfire Club, em vingança da morte de um amigo que ela fez logo que chegou ao presente vindo do futuro alternativo de Days of Future Past (não perca o fio da meada, pois Claremont começava a complicar a cronologia mutante nessa época, com o desenhista John Romita Jr). Basicamente, essa vontade de matar vinha do megaevento então recém-concluído, Secret Wars II, em que Rachel absorveu a energia vital dos outros X-Men (sem consentimento deles) para amplificar sua Phoenix Force residual e derrotar o Beyonder (ufa!! hehe).

Nesse ínterim, Wolverine já estava com seu fator de cura no máximo, depois de um confronto sangrento com Lady Deathstrike (com participação da garotinha Energizer [Kate Power], do Power Pack), além da experiência com Rachel em Secret Wars II.

Aliás, essa experiência teve consequências que deixaram algumas sequelas temporárias, como um elo psíquico entre Rachel e Wolverine (Chris Claremont adora isso) – e esse elo estava causando sonhos em Rachel, em que ela acabava sendo morta por Wolverine ou matando o mutante canadense. Também havia o temor onipresente de Rachel, de voltar a ser uma “hound” (mutantes que eram capturados e usados para rastrear e capturar mutantes fugitivos em seu futuro alternativo). Considerava-se que tudo isso estava sendo potencializado pela própria experiência de “excesso de poder” que ela tivera, mesmo que os X-Men não estivessem muito à vontade com ela depois disso.

Todo esse tumulto psicológico levaria Rachel a tentar compensar seus erros, e ela achava que devia vingar a morte do amigo – coisa que ela já tentara antes e foi impedida. O elo psíquico fez com que Wolverine captasse sua intenção e, quando ela se dirigiu ao Hellfire Club e o invadiu, quase assassinou Selene (pega de surpresa), tendo sido impedida por… Wolverine.

Wolverine disse então que, se Rachel queria ser uma heroína, não podia matar mais ninguém. A exemplo do próprio Wolverine, Rachel já havia matado pessoas em seu passado, mas ela deveria superar isso, agora que tinha uma nova chance em sua vida. Irada, Rachel disse que só havia um jeito de detê-la: matando-a… e foi o que Wolverine fez, espetando suas garras no pulmão e coração de Rachel!

Então, ficamos da seguinte forma: para evitar que alguém mate outra pessoa, mate-o antes que ele faça isso. O discurso faz sentido em uma situação de lados opostos da lei (como opondo um policial e um sequestrador ameaçando o refém, por exemplo), mas não entre amigos. E mais, Wolverine estava em uma espiral crescente para se tornar mais feroz novamente. Claremont queria realçar que Wolverine continha seus instintos assassinos animalescos graças à filosofia samurai (desde a primeira minissérie do personagem, em 1982, com Frank Miller), e essa tinha sido a tônica desde então, inclusive na minissérie Kitty Pryde & Wolverine (1984), mas ali todo mundo estava com os nervos à flor da pele, certo?

Wolverine não aparentou muita dúvida quando voltou aos X-Men e disse o que fez – tanto que gerou revolta entre os outros companheiros. Para “sorte” de Wolverine, ele não tinha certeza se ela tinha morrido. De fato, Rachel sobreviveu, usando seus poderes telecinéticos para manter seus ferimentos mortais estáveis (!!). No elo psíquico remanescente, Rachel se vingou de Wolverine, com um ataque de energia psíquica à distância que jogou Wolverine nos trilhos de um trem, sendo salvo por Kitty Pryde. Tenso!

Bem, o fato é que conseguem rastrear Rachel – ela estava no Central Park. Mas Selene e o Hellfire Club também estavam atrás dela. E, ainda tinha mais: o Sentinel aprimorado do mesmo futuro alternativo de Rachel – Nimrod – também a havia localizado e saiu para exterminá-la.

Chris Claremont costumava engendrar bons confrontos entre equipes e este não seria diferente. Depois de X-Men e Hellfire Club se enfrentarem, ambos se uniram por força das circunstâncias para enfrentar Nimrod. Este é derrotado a duras penas, custando a morte de dois membros do Hellfire Club e arriscando a vida de Colossus e Nightcrawler (além de Sebastian Shaw, do Hellfire Club). No final, Wolverine quis “matar” Nimrod (que estava avariado), antes que esse se remontasse e voltasse mais poderoso. “Matar” um androide podia? hehe

Wolverine ficou só na vontade, porque Nimrod se teleportou para longe – como fizera na primeira vez em que enfrentou o grupo mutante. Mas, e Rachel? Nesse espaço de tempo, Rachel conseguiu fugir, mas foi “atraída” por Spiral (sim, a guerreira mística ligada a Mojo, e que tinha ajudado a aprimorar ciberneticamente Lady Deathstrike em sua Body Shoppe), que lhe prometeu uma nova aparência e uma nova vida (provavelmente servindo a Mojo).

Rachel assim desapareceu das histórias dos X-Men por quase 2 anos, até ela voltar à Terra na origem da equipe Excalibur, em 1988. E os X-Men aparentemente não se preocuparam muito (Claremont nunca explicou isso direito).

Porém, por mais ação e reviravoltas que esse arco pudesse ter (e ele teve), fica no ar a questão do impasse entre Wolverine e Rachel. Esse tipo de impasse vira e mexe aparece nas histórias de super-heróis, principalmente quando se discute se uma ameaça merece ou não ser eliminada, por qualquer forma que seja. E a resposta geralmente causa divisão, pois o que se convenciona definir como herói (nos dias de hoje) é alguém que pratica o bem de forma altruísta, e até mesmo o “suicídio” é mais “aceitável” (para a figura do herói, que doa sua vida em favor do próximo) do que simplesmente erradicar a ameaça, sem compaixão.

Na Antiguidade, principalmente nos mitos e lendas, os heróis eram tão sanguinários quanto seus inimigos, mas isso era outro contexto cultural, bem diferente dos pruridos civilizatórios que procuramos ter hoje (alguns ainda não têm). No entanto, a menos que se trate de um anti-herói, as histórias de super-heróis tentam (ou deveriam tentar) passar bons valores ao público.

O problema é que Wolverine é um personagem limítrofe. Sua caracterização o coloca nesse tipo de situação a todo momento – o que não deveria ser o caso de Rachel… embora, a influência da Phoenix Force poderia levar a isso, ou até mesmo o elo psíquico com Wolverine.

Claremont não teve tempo para desenvolver toda essa discussão, que ele certamente gostaria de fazer, talvez porque havia a necessidade de iniciar Mutant Massacre (que envolvia outros roteiristas e revistas também), mas é algo que poderia ser retomado depois, e não o foi – pelo menos não envolvendo os mesmos personagens. De qualquer forma, o mais interessante é ver Wolverine querendo dar lição de moral, mesmo tendo muita culpa no cartório, fazer o que disse que não deveria ser feito (a morte de Rachel seria para o “bem comum e maior”?) e, no final da mesma história, querer apelar para a mesma solução que não queria que Rachel fizesse… hehe

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Os mistérios do crossover X-Men/New Teen Titans

Crossovers entre editoras e franquias foram um grande sonho, que parecia inalcançável, até que se tornou uma realidade nos anos 1970 e, por fim, foi banalizado nos anos 1990. Eles ainda existem, mas as duas majors (Marvel e DC) não têm feito mais crossovers já há 13 anos… e não há sinalização de que voltem a fazê-lo tão cedo.

No comecinho dos anos 1970, Roy Thomas era um dos grandes entusiastas da ideia, mas Marvel e DC não se acertavam – assim, ele combinava fazer crossovers disfarçados, como fez quando criou o Squadron Supreme (“Justice League of America”) ou até mesmo combinou com os editores da DC para fazer uma história “que começava na Marvel e terminava na DC”. Tem também a famosa história do roteirista Steve Englehart, que colocou sua personagem Mantis em 3 universos diferentes (com nomes e aparências diferentes): Marvel, DC e Eclipse.

No entanto, o sonho de fazer um crossover oficial veio em 1976, quando ocorreu o primeiro encontro entre Spider-Man e Superman produzido conjuntamente por Marvel e DC (na verdade, essa foi a segunda produção conjunta, já que uma quadrinização do filme do Mágico de Oz com Michael Jackson já tinha sido lançada – mas, obviamente, era um licenciamento, não um encontro entre universos).

Produzida por profissionais que estavam trabalhando na Marvel na época (Gerry Conway e Ross Andru), a DC fez questão que esses profissionais escolhidos também já tivessem trabalhado na DC antes. Porém, não havia um plano estabelecido para mais encontros.

O sucesso do empreendimento ficou na pauta e voltou a ser discutido, com um plano mais elaborado – assim, a partir de 1981, tivemos a produção de mais 3 crossovers, com produções alternadas entre Marvel e DC.

O primeiro foi um novo encontro entre Spider-Man e Superman, produzido pela Marvel (Marv Wolfman & Jim Shooter e John Buscema), em 1981. Depois, produzido pela DC, tivemos Batman e Hulk (Len Wein e José Luis García-López), no final de 1981. E, finalmente, X-Men e New Teen Titans, produzido pela Marvel em 1982… por Chris Claremont e… Walt Simonson!

Ok, até aí, sem grandes problemas. Claremont era o grande responsável pelos X-Men (junto com John Byrne) e Simonson iniciava sua fase excelente em Thor… mas, o senso comum dos crossovers anteriores era de que os criadores deveriam ter identificação com pelo menos um dos personagens ou grupos – e Simonson nunca havia desenhado ou escrito X-Men ou Teen Titans antes! Por que ele foi escolhido?

E sim, Walt Simonson fez um excelente trabalho no crossover, que foi um grande sucesso, mas ele não tinha qualquer ligação com os personagens. A propósito, X-Men e New Teen Titans eram os dois maiores sucessos editoriais da época – X-Men chegou a esse patamar com Chris Claremont e John Byrne, e New Teen Titans era produzido por Marv Wolfman e George Pérez.

A ideia original era que Pérez desenhasse esse crossover, mas era a “vez” da Marvel, e Pérez havia se transferido para a DC na época. Assim, estava eliminado por causa dessa “regra” (embora ele tivesse bastante interesse).

Walt Simonson entrou na jogada porque a Marvel simplesmente não tinha quem colocar – John Byrne era a primeira escolha (e ele até fez uma pinup sobre o projeto), mas ele acabara de se estranhar com Chris Claremont e deixado os X-Men. Não havia clima.

Dave Cockrum também foi considerado, mas ele acabara de voltar aos X-Men, justamente para substituir Byrne, e não tinha “agenda” para produzir a história. Aí, sobrou para Simonson.

De qualquer forma, como já citamos, o trabalho moderno e ousado de Simonson é um dos pontos altos dessa história, que teve impacto na época (embora seja tecnicamente rasa e corrida). Basicamente, Claremont juntou Dark Phoenix e Darkseid como grandes inimigos, com Deathstroke the Terminator fazendo contraponto com Wolverine. É isso aí.

Situando-se cronologicamente na época (embora sem muita precisão), Phoenix já havia se suicidado na Lua, e Cyclops já havia retornado ao grupo (pós-Byrne, portanto). Kitty Pryde ainda era uma adolescente bobinha. Já no lado dos New Teen Titans, Dick Grayson ainda era Robin (sem Nightwing, portanto) e ainda não havia Terra e muito menos o famoso arco The Judas Contract.

Darkseid queria mais uma vez acessar a energia primordial do universo, a Source… que ficava além do limite do universo – a Source Wall. Aliás, essa foi a primeira vez em que a Source Wall foi retratada como um muro, onde aqueles que tentavam atravessá-la ficam presos eternamente (assim, essa inovação foi incorporada à cronologia). Para conseguir acessá-la, Darkseid usou a busca incessante de Metron (o New God “da sabedoria”) pelo conhecimento para atiçá-lo para descobrir um jeito de atravessar a muralha e descobrir o que havia do outro lado. E Metron fez isso, deixando o caminho aberto, além de sua cadeira hipertecnológica Mobius. Darkseid então pretendia usar a Phoenix Force para ajudá-lo na empreitada de atravessar a muralha e não ser destruído (como aconteceu com Metron). O problema era que a Phoenix havia morrido… mas energia não é destruída…

Darkseid pretendia recolher os resíduos energéticos da Phoenix na Terra para recriá-la sob seu controle e, já que estava à mão, pretendia usá-la para ajudar a transformar a Terra em uma nova Apokolips, utilizando Deathstroke para operacionalizar as máquinas que recolheriam os resíduos energéticos.

Aparentemente Jean Grey tenta avisar os X-Men do risco, enquanto Raven (dos New Teen Titans) também é assombrada pela chegada de Darkseid e da Phoenix Force. Starfire até mesmo revela que já conhecia a lenda da ameaça da Phoenix Force.

Pois bem, os grupos se juntam e resolvem derrotar os supervilões… em um confronto final bem à la Claremont (com a “força do amor derrotando as trevas”).

O crossover deveria ser o famoso JLA vs Avengers, na época produzido pela DC, por Gerry Conway e George Pérez. Pérez estava tão empolgado que fez várias páginas do projeto, mas rusgas editoriais entre Marvel e DC emperraram o projeto, que foi engavetado. Foi então oferecido um segundo crossover entre X-Men e New Teen Titans para Pérez desenhar, já que este agora seria produzido pela DC. Mas Pérez recusou, estava sem clima.

A “Guerra Fria” entre Marvel e DC voltou, e só seria rompida em 1994, com o primeiro crossover entre Batman e Punisher… e aí se escancarou uma quantidade enorme de crossovers… até o último, o tão sonhado JLA vs. Avengers em 2004, produzido por Kurt Busiek e George Pérez (cada editora produziu duas edições da minissérie em 4 partes). JLA vs. Avengers é hoje tido como o melhor crossover Marvel/DC de todos os tempos, e um dos poucos que fazem parte da cronologia das duas editoras… mas, também foi o último. A “Guerra Fria” voltou com tudo… e estamos há 13 anos sem novos crossovers entre as duas majors.

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Cronin, Brian – Comic Book Legends #103

X-Men contra Proteus: Quando Wolverine teve um ataque de pânico pra valer! – parte 2

Como falamos na primeira parte deste post, o confronto de X-Men contra Proteus é um dos mais intensos da aclamada fase de Chris Claremont e John Byrne no principal título dos mutantes, mas é muitas vezes ofuscado por outros arcos magistrais, principalmente pela Dark Phoenix Saga. A propósito, para se chegar na Dark Phoenix Saga, passa-se por ele (embora não seja obrigatório), graças à técnica folhetinesca de Claremont de desenvolver vários enredos simultaneamente.

Assim, temos que Mutant X escapou de sua “cela de contenção” no laboratório da ilha Muir e é filho de Moira MacTaggert. Transformado em energia psíquica pura, Proteus (como ele se autodenomina agora) salta de um corpo para outro (consumindo seu hospedeiro no processo, além de absorvendo suas memórias e conhecimentos) e pode alterar a realidade. Seu objetivo? Chegar a Edimburgo, capital da Escócia – e os X-Men estão no encalço da criatura, principalmente sua mãe, que não vê outra alternativa a não ser matá-lo – a propósito, a grande fraqueza de Proteus são os metais e, por isso, ele pode ser morto ou pelo menos ferido por balas.

Divididos em subgrupos, os X-Men (mais Banshee [sem poderes] e o casal Havok e Polaris) perseguem a trilha de corpos de Proteus, já que o mutante é invisível para o computador de rastreio Cerebro e para a telepatia de Phoenix. E eis que a dupla Wolverine e Nightcrawler se depara com Proteus no corpo de um policial em uma estrada – Wolverine consegue sentir o cheiro de Proteus.

Proteus percebe que são seres poderosos e tenta possuir Wolverine, mas é repelido pelo esqueleto revestido por adamantium. Por causa disso, defensivamente, resolve distorcer a realidade deixando Wolverine e Nightcrawler totalmente deformados e esticados junto com a realidade ao seu redor. E eis que chega Storm para tentar salvar os colegas.

Wolverine estava arrasado e em pânico, com Nightcrawler tentando protegê-lo. Quando Storm entra na zona de distorção, acaba luxando o ombro e não consegue mais voar. Sabendo que Proteus precisa fazer contato visual para possuir alguém (e ele está de olho nela), ela causa uma forte tempestade de vento e granizo, que parece não conter Proteus – ele só é detido por balas de metal disparadas por Moira de longe.

Com a fuga de Proteus, os demais X-Men chegam – Storm, Wolverine e Nightcrawler estão traumatizados e é necessário que Cyclops os provoque como um sargento do Exército, criando uma “Danger Room” improvisada para que os X-Men se recuperassem e resolvessem encarar Proteus mais uma vez.

E, afinal, o que foi que causou a crise de pânico em Wolverine? Segundo a explicação, quando houve a distorção da realidade, seus sentidos superaguçados perderam todas as referências físicas e ficaram malucos – Wolverine perdeu a orientação por completo. É curioso que, nessa época, Wolverine era mais “normal” do que foi se mostrando depois – ele ainda levava tempo para se recuperar de ferimentos e também era menos “cavaleiro solitário”, podendo, portanto, sofrer essas demonstrações de fraqueza sem “prejudicar a reputação de durão”… hehe

Enfim, Moira sabe por que Proteus está indo para Edimburgo – é para matar o pai. Joseph MacTaggert é o ex-marido de Moira que se recusa a dar o divórcio porque acredita que o fato de Moira ter ganho o Prêmio Nobel o ajudará em sua carreira política. Proteus sabe das atitudes mesquinhas do pai (que abandonou a mãe antes que ele nascesse) e quer vingança. Moira chega antes à casa de Joseph e tenta avisá-lo – não só de que tem um filho, mas de que ele quer matá-lo. Porém, chegou tarde: Proteus já estava possuindo o pai.

Tem-se então uma grande batalha em Edimburgo, em que Phoenix emprega muito de seu poder para derrotar Proteus – ambos ficam esgotados, e Proteus consome o corpo do pai. Revelando-se com um corpo psíquico, Colossus o golpeia nessa condição e, graças ao seu corpo de aço orgânico, Colossus consegue dissipar a energia psíquica de Proteus por todo o planeta. Proteus estava morto (é o que se pensava… ele retornou anos depois, claro), finalmente a ameaça de Mutant X estava resolvida… e, com humor negro ou não, Moira não tinha mais o incômodo do ex-marido.

Claremont e Byrne colocaram os X-Men em mais uma ameaça definitiva, em que o grupo “apanhou” do vilão e foi salvo por um golpe de sorte… embooooooraaa, venhamos e convenhamos, Colossus podia ter feito isso fazia tempo, e por isso Claremont manteve o mutante metálico propositalmente longe de Proteus por boa parte da história.

Essa manobra óbvia do enredo para evitar que se resolvesse rapidamente poderia mostrar que o roteiro seria fraco, mas o clima de tensão e aflição que se coloca em todo o desenrolar da história faz com que o leitor esqueça desse detalhe mais simplório – e isso comprova a qualidade do roteiro, que se superou mesmo a partir de um recurso “menos nobre”.

Esse primeiro confronto de X-Men e Proteus é tido, obviamente, como uma das grandes histórias do grupo, apesar de ser ofuscado por outros arcos da fase Claremont/Byrne, como já falamos antes. No entanto, quando se fala de histórias em que os X-Men apanharam sem dó do vilão, ela está entre uma das primeiras… hehe.

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X-Men contra Proteus: Quando Wolverine teve um ataque de pânico pra valer! – parte 1

A fase dos X-Men produzida por Chris Claremont e John Byrne é até hoje uma das fases mais elogiadas dos comics em todos os tempos. A sinergia entre os dois criadores foi quase perfeita, transformando um título que havia sido quase cancelado e ressuscitado por Len Wein, Chris Claremont e Dave Cockrum (já fizemos posts sobre isso aqui no blog, é só procurar!) em um campeão de vendas. Sim, foi com Claremont e Byrne que os X-Men subiram de patamar e começaram a trilhar sua condição icônica que ostentam até hoje, tendo até uma forte base de fãs quase “independente” dos fãs dos outros personagens da Marvel.

Essa fase durou cerca de 3 anos e meio (entre 1977 e 1981) e teve vários arcos memoráveis, inclusive o arco definido como um dos melhores da história dos comics – estou falando da Dark Phoenix Saga. Mas, apesar deste ter sido o auge dessa fase premiada e favorita, não foi a sua conclusão e, mesmo assim, parece que tudo converge ali (embora tenha havido mais 6 edições depois dela). Por causa dessa relevância toda, muitos outros arcos sensacionais, em que os X-Men estiveram à beira da destruição, passam ao largo dos “mais favoritos” – no entanto, eles se mantêm vivos e empolgantes quando são revisitados e/ou relidos.

A “Proteus Saga” é um desses arcos e, na verdade, deveria ter tido mais relevância porque concluía uma ponta solta que havia sido levantada algum tempo antes – o mistério do Mutant X. Esse sempre foi um “problema” das histórias de Chris Claremont, que costuma trabalhar com vários plots/enredos ao mesmo tempo, em momentos diferentes de desenvolvimento.

Se, por um lado, essa técnica prende a atenção do leitor, que continua lendo para ver a resolução daquela ponta solta (mesmo que leve meses – é uma técnica bastante usada em novelas de TV, para segurar a audiência), mas pode diminuir o impacto dessa resolução quando acontece (como aconteceu com a história do Mutant X) ou até mesmo se tornar irrelevante (se levar muito tempo para se resolver).

No caso, o mistério de Mutant X começou antes mesmo de Byrne assumir a arte da série, quando se verificou que havia uma “cela” especial para o Mutant X na ilha Muir, onde ficava o centro de pesquisas mutantes de Moira MacTaggert, na costa da Escócia. A cela desse tal Mutant X ficava próxima da cela de Magneto, onde ele havia “reenvelhecido” após ter a idade regredida em uma antiga história dos Defenders – siiiiiim… coisa complicada.

Quando Magneto escapou, as defesas da cela de Mutant X se enfraqueceram e… aí começa tudo.

O confronto de X-Men e Proteus se dá em Uncanny X-Men (1963) #125-128 (setembro-dezembro/1979) e começa com Moira MacTaggert estudando os limites de Phoenix. Jean Grey havia morrido e ressuscitado há algum tempo atrás e ainda não se sabia quais eram realmente o alcance do que ela podia fazer. Os X-Men estavam sendo dados como mortos desde o último confronto deste contra os X-Men na Antártida (dos quais Phoenix e Beast escaparam) – na verdade, eles haviam sobrevivido e fizeram uma longa viagem para retornar a Nova York e também achavam que Phoenix e Beast haviam morrido.

Falando em X-Men, Cyclops ainda estava achando o novo grupo inviável (os New X-Men), pois eram muito independentes e cheios de atitude, não conseguindo atuar conjuntamente nos treinamentos na Danger Room. Some-se a isso o fato de que Banshee literalmente perdeu seus poderes sônicos após impedir que o Japão afundasse e agora apenas auxiliava Cyclops no comando da equipe.

Voltando à ilha Muir, Phoenix e Moira não estavam sozinhas – lá estavam Jamie Madrox (hoje conhecido como Madrox, do X-Factor), que auxiliava Moira, e o casal de ex-X-Men Havok e Polaris, de férias. E também estava o Mutant X, nas sombras, possuindo um vizinho briguento, Angus MacWhirther. Mutant X também queria escapar da ilha Muir para as ilhas Hébridas Exteriores (entre Muir e a Escócia) para chegar à Escócia – ele tinha um objetivo fixo: chegar à capital, Edimburgo.

Em mais um plot/enredo sobreposto, havia outro personagem nas ilhas Hébridas Exteriores que estava obcecado por Jean Grey – Jason Wyngarde (um disfarce do antigo inimigo Mastermind – então no Hellfire Club). Wyngarde estava “perseguindo” Jean em sua estadia na Escócia, pois estava “sabotando” sua psique para poder controlá-la e transformá-la na Black Queen do Hellfire Club (e essa manipulação acabou levando à perda de controle de Jean e à sua transformação em Dark Phoenix). Esses ataques constantes de Wyngarde faziam com que Jean se descolasse da realidade e tivesse flashes psíquicos em que era uma aristocrata britânica do século 18, casada com Wyngarde e caçando humanos como se fossem raposas (! – cena forte para a época).

A manipulação mental e a progressiva mudança psicológica dos personagens sempre foi um plot recorrente de Claremont, mas aqui se apresentava pela primeira vez, com todo o impacto que merecia.

Voltando à Phoenix, Moira concluiu que os poderes de Jean eram agora imensuráveis e que ela mesma havia instalado bloqueios, para continuar sendo humana. Nessas elucubrações, ela descobriu a fuga de Mutant X… tarde demais.

Em Nova York, Beast (um Avenger na época) passa na X Mansion para ver como as coisas estavam (Professor X se mudou para o espaço, como consorte de Lilandra, do império Shi’Ar, depois que os X-Men foram dados como mortos) e descobre que os X-Men estão lá e vivos. Após toda a alegria do reencontro, os X-Men são informados de que Jean está na ilha Muir, e resolvem ir lá visitá-la. Quando Cyclops liga para lá e conversa com Polaris, a ligação é interrompida… Mutant X atacou!

Obviamente que os X-Men partiram imediatamente para a ilha Muir e se encontram com os X-Men, além do cadáver de MacWirther – o Mutant X aparentemente saltava de um corpo para outro (após consumir o hospedeiro) e saltou em uma das duplicatas de Madrox.

Moira finalmente explica o que é o Mutant X – é seu filho, Kevin, cuja mutação o deixou incontrolável! E Kevin pode saltar de um corpo para outro (absorvendo os poderes e conhecimentos dos hospedeiros), além de manipular a realidade! Transformado em energia psíquica, sua única fraqueza são metais (de qualquer tipo), que podem controlá-lo ou destruí-lo. Aliás, ele tentou possuir Polaris, mas os poderes magnéticos dela também impediram que ele a possuísse.

Mutant X era invisível para o computador Cerebro e para a telepatia de Phoenix, mas a notícia de que o barco de MacWirther atracou nas Hébridas Exteriores (na cidade de Stornaway), leva os X-Men para lá. Mutant X ainda tentou possuir Wyngarde, mas o poder psíquico deste também o impediu.

Começa então a viagem para Edimburgo, com os X-Men (junto com Moira, Havok e Polaris – menos Madrox, que permaneceu em Muir para proteger a ilha) se dividindo em subgrupos para enfrentar Mutant X, que segue mudando de corpos e agora se autodenomina Proteus (referente ao deus grego da mudança). E vamos ver o que Proteus apronta contra os X-Men na segunda parte deste post.

Fontes:

Revistas referidas

A mudança acidental que tornou X-Men um fenômeno de vendas! – parte 4

Mostramos nas três partes anteriores deste post todas as idas e vindas da renovação dos X-Men que viria a salvar a franquia do cancelamento quase certo em 1975. Porém, essa operação de salvamento, que consistia em transformar a equipe em um grupo de heróis internacionais, não seria lançada primeiramente na série moribunda da franquia, que até, inclusive, se concentrava em reprints (reimpressões de histórias antigas) há 5 anos. Era necessário chamar a atenção dos leitores com uma revista especial, com uma grande chamada de capa – era Giant-Size X-Men #1 (junho/1975), sob a batuta de Len Wein e Dave Cockrum! (Chris Claremont só estrearia no roteiro na revista X-Men #94 (agosto/1975).)

Mas, com relação a essa Giant-Size X-Men, não pensem que a história foi extremamente épica. Wein fez um trabalho corrido na revista, e até com abordagens não muito politicamente corretas no contexto atual, mas cumpriu o pretendido: cativou os leitores e conseguiu captar atenção suficiente para que os novos X-Men continuassem suas aventuras na revista própria (então bimestral).

Saindo a partir de março/1975 (na época, as revistas saíam 3 meses antes data de capa), Giant-Size X-Men #1 partia do pressuposto de que os X-Men originais estavam desaparecidos depois que Professor X identificou um mutante poderosíssimo no Pacífico Sul e os despachou para investigar. Algum tempo depois, Cyclops retornou com o uniforme todo rasgado e aparentemente sem poderes ópticos pedindo ajuda (o avião dos X-Men, que na época ainda não era o Blackbird, mas o “Stratojet”, foi programado automaticamente para retornar ao ponto de origem com Cyclops desacordado).

Professor X ativou então um “plano secreto” que ele tinha – resolveu recrutar outros mutantes que já havia identificado e pretendia contatar em breve. Assim se iniciou um périplo por várias partes do mundo, encontrando cada um dos novos membros e trazendo-os para os X-Men, mesmo que sua falta de treino comprometesse a missão de resgate. Três encontros foram mais constrangedores quando analisados no contexto atual: Nightcrawler foi salvo de uma multidão raivosa de camponeses que achavam que ele era um demônio (sim, no melhor clichê de Frankenstein, com camponeses com tochas e forcados) – e Professor X não teve cerimônia em paralisar toda a turba com seus poderes mentais para salvar Nightcrawler; Storm foi encontrada no interior do Quênia, atuando como uma “deusa” e aceitando dádivas e sacrifícios de seus fiéis – e, sem a menor preocupação, largou seus fiéis famintos para seguir o Professor X; por fim, Thunderbird foi encontrado derrubando um bisão e demonstrando desprezo e ódio com relação aos brancos – o que o Professor X repreende, acusando os apaches de serem “bebês birrentos” e não guerreiros corajosos!

Bem, esse grupo disfuncional foi reunido e já houve bateboca e distensão logo de cara, já que Sunfire e Wolverine também já não era naturalmente muito sociáveis. Enfim, sob a liderança de Cyclops, já com seus poderes ópticos recuperados, esse grupo se dirigiu a Krakoa, a ilha que revelou ser ela mesma o mutante superpoderoso! Na verdade, uma explosão atômica uniu o ecossistema local em uma grande consciência coletiva e, assim, toda a ilha atacava os X-Men.

Mas mais uma coisa foi revelada ali – Krakoa estava se alimentando da “energia mutante” (o que quer que isso fosse) dos X-Men aprisionados, e havia mandado Cyclops de volta para trazer MAIS mutantes para ela se alimentar! E o plano deu certo! hehe

Melhor dizendo, não tão certo, pois os novos X-Men improvisados se reuniram em duplas e enfrentaram várias ameaças de Krakoa (uma tática comum dos comics de superequipes da época) e depois se juntaram para o “confronto final”, libertando os X-Men originais e, com uma combinação improvável dos poderes climáticos de Storm e dos poderes magnéticos de Polaris, anulou-se a gravidade de Krakoa por um momento, jogando a ilha no espaço (?!!) E, não, os X-Men não foram junto (a anulação da gravidade foi seletiva? hehe)!

Na volta para casa, temos a famosa pergunta: “o que vamos fazer agora com 13 X-Men?”

Como já falamos antes, a ideia original era que Banshee e Sunfire se afastassem da equipe após essa primeira aventura, e se tornassem “reservas”. Mas apenas Sunfire foi embora de fato. Os X-Men originais também deixaram o grupo, sobrando apenas Cyclops para treinar e liderar o novo grupo (Jean Grey ficaria aparecendo rotineiramente, até retornar oficialmente como Phoenix). E o bateboca entre os membros seria um grande ponto de empatia com o leitor, gerando a tensão natural de um grupo de jovens que acabaram de se conhecer. A empatia com os leitores aumentou mais ainda quando Thunderbird morreu logo na segunda aventura (X-Men #95 (outubro/1975)), como consequência de sua própria impetuosidade.

Claremont começava a explorar suas melhores qualidades ali, criando boa interação social entre os personagens e estabelecendo vários plots e subplots paralelos para fisgar a atenção – deu no que deu.

Por outro lado, a história de Giant-Size X-Men apenas deu pistas dessa interação social, pois Wein escreveu uma história corrida e até simples, basicamente apenas para apresentar os novos personagens. Se fosse hoje, essa história poderia ser expandida por um ano.

E, de fato, essa história foi ampliada por Ed Brubaker nos anos 2000, com a minissérie X-Men: Deadly Genesis (2006), em que se revelou que os “novos X-Men” foram, na verdade, a segunda tentativa de resgate dos X-Men presos em Krakoa: houve uma outra equipe de 4 mutantes que foi enviada para lá que, ou morreu ou foi capturada… e os que sobreviveram (Vulcan e Darwin) foram para o espaço junto com a ilha!

“Deadly Genesis”, aliás, era um epíteto que apareceu na capa de Giant-Size X-Men #1, mas a história em si se chamou “Second Genesis” (o que hoje sabemos que não era… hehe).

A relevância dessa edição corrida, com passado conturbado, mas emblemática, é imensa e se tornou icônica na história dos comics de super-heróis – tanto que, para muitos leitores e fãs mais recentes, é a “origem” dos X-Men!

Fontes

Sanderson, Peter – Marvel Universe

Sanderson, Peter – Marvel Chronicle

Howe, Sean – Marvel Comics the Untold Story

Martin, Franck – Back Issue #83

Revistas referidas

 

A mudança acidental que tornou X-Men um fenômeno de vendas! – parte 3

Como vimos nas duas partes anteriores deste post, a transformação dos X-Men em uma equipe com mutantes de origem internacional surgiu de um pedido genérico do então presidente da Marvel, Al Landau, que queria expandir a editora para o público de outros países e achava que os leitores estrangeiros se identificariam com heróis de suas próprias nacionalidades. Isso já havia sido aplicado na criação de Wolverine e de Captain Britain, agora ele queria uma equipe de heróis internacionais para “economizar”. O então editor-chefe da Marvel, Roy Thomas, quis aproveitar a ideia para reformular os X-Men, cuja revista estava há 5 anos publicando apenas reprints (reimpressões de histórias antigas) e caminhava firmemente para o cancelamento definitivo. Vimos na segunda parte do post como os membros dessa equipe foram escolhidos e/ou criados. Agora vamos ver como esse “relançamento” dos X-Men se deu exatamente.

Thomas sabia que, se a mudança se desse diretamente na revista dos X-Men, passaria despercebida por boa parte do público, mesmo com uma campanha de publicidade (que era limitada na estrutura editorial da época). Era necessário anunciar a inovação com barulho, provavelmente com uma edição especial. E havia a plataforma ideal para isso: na época, a Marvel lançava revistas especiais chamadas Giant-Size, geralmente trimestrais, podendo incluir reprints de histórias antigas ou conter histórias inéditas mais longas – eram o equivalente das revistas 100-Page Spectacular da DC. Então se decidiu que haveria um Giant-Size X-Men.

As revistas Giant-Size não garantiam sequência. Obviamente que as franquias mais importantes tinham sequência, mas outras não. Assim, não era esperado que Giant-Size X-Men tivesse uma segunda edição – mas não seria necessário, os personagens continuariam a aparecer na agora renovada revista dos X-Men. E esse era o plano… mas como atrair a atenção dos fãs para Giant-Size X-Men se a revista original estava moribunda? Aí tivemos aquela capa hoje icônica, em que os rostos dos X-Men originais olham atônitos os novos X-Men “rasgando” a capa e aparecendo para tomar conta do pedaço – “All-New, All-Different X-Men” (Novíssimos e Diferentes X-Men)!

Muito bem, parece que tudo estava finalmente definido e a todo vapor, certo? Len Wein escrevendo e Dave Cockrum desenhando os Novíssimos X-Men internacionais!! Errado! Ainda haveria mais um percalço atrapalhando a epopeia – Roy Thomas havia abdicado de seu cargo de editor-chefe e, indicou em seu lugar, aquele que contratou como seu auxiliar: Len Wein!

A história da resignação de Thomas tem a ver com estafa – sob sua batuta (e sem as limitações de distribuição da National/DC), a linha editorial da Marvel cresceu absurdamente, envolvendo também magazines (revistas em P&B) e ele não aguentava mais ser editor-chefe de tudo isso, além de ser roteirista. Na época, não havia ainda os editores específicos de linhas editoriais, e Thomas não aguentou. Para evitar que fosse para a DC, Stan Lee (então publisher, o cargo máximo abaixo do presidente) ofereceu a Thomas uma proposta de continuar escrevendo para a editora (especialmente Conan the Barbarian e sua nova franquia, Invaders) e sendo editor específico de suas revistas, respondendo diretamente a Lee. Já Len Wein seria o editor-chefe da Marvel, enquanto Marv Wolfman seria o editor de magazines. Na verdade, Stan Lee escolheu Gerry Conway como editor-chefe, mas como ninguém gostava dele, seu período como editor-chefe foi breve e ele se mudou para a DC. A dupla Wein/Wolfman, conhecida como LenMarv, seria aceita por todos… por um período.

O fato é que Wein se viu em uma posição parecida com a de Thomas: não tinha tempo para continuar escrevendo tudo que escrevia e ainda ser editor-chefe. Wein optou por continuar escrevendo seu personagem preferido na época, o Hulk, e foi passando seus outros trabalhos para outros roteiristas. X-Men, do quais ele tinha escrito o Giant-Size e mais o esboço do primeiro arco da revista (2 edições), seriam “rifados” para outro roteirista, antes mesmo de serem relançados!

Ninguém se candidatava, até que o jovem assistente de Wein, um britânico chamado Chris Claremont, se apresentou e topou o desafio. Claremont já havia escrito várias coisas, mas estava pegando séries contínuas para escrever. Primeiro pegou Iron Fist e, em seguida, X-Men.

No caso específico de X-Men, Claremont imaginava que o fato de ser britânico, além de ter morado em outros países durante a infância, pelo fato de seu pai ser da Força Aérea britânica, lhe daria mais cancha para explorar o “mote internacional” da série. E, de fato, Claremont já estreou no primeiro arco de X-Men como corroteirista de Wein na edição #94 (agosto/1975), três meses após Giant-Size X-Men #1 (junho/1975). Claremont ficaria inicialmente com os mutantes até 1991, sendo parte corresponsável pelo estouro do grupo como uma das maiores franquias da história dos comics (principalmente depois que John Byrne substituiu Dave Cockrum).

Todos sabemos que Claremont foi um sucesso em X-Men e se tornou o “Mutant Meister”, como era chamado pelos fãs. Porém, a exemplo do que aconteceu com Stan Lee, hoje se sabe que ele não trabalhou sozinho, contando com uma grande colaboração nas ideias e no desenvolvimento das histórias e dos personagens dos artistas, notadamente de John Byrne, Dave Cockrum, Jim Lee e Alan Davis. A grande pergunta que fica é: se Len Wein não tivesse abandonado o projeto em seu início, será que o resultado seria o mesmo? Provavelmente, não. As “forças do destino” queriam Claremont ali.

Vamos ver como foi a história desse Giant-Size X-Men #1 na quarta e última parte deste post.

Fontes

Sanderson, Peter – Marvel Universe

Sanderson, Peter – Marvel Chronicle

Howe, Sean – Marvel Comics the Untold Story

Martin, Franck – Back Issue #83

Revistas referidas

A mudança acidental que tornou X-Men um fenômeno de vendas! – parte 2

Como vimos na primeira parte do post, os X-Men já eram favoritos dos fãs nos anos 1960, mas isso não se traduzia em vendas – de forma alguma. Sua revista vivia sob constante risco de cancelamento e chegou até a se tornar um título de reprints (reimpressões) a partir da edição #67 (março/1970) – se você quisesse histórias inéditas dos personagens, teria de procurá-los em participações especiais nas histórias de outros heróis ou nas histórias solo do Beast na revista Amazing Adventures (1970). Os X-Men ficaram nessa situação por 5 anos, até que surgiu a ideia de relançá-los como uma equipe internacional. Originalmente, a ideia partiu de um pedido do então presidente da Marvel, Al Landau, que queria internacionalizar a editora e usar heróis de outras nacionalidades para fisgar os leitores estrangeiros. Wolverine foi um exemplo de um personagem criado para cativar os canadenses. Landau queria cativar especialmente 3 mercados: Canadá, Japão e Alemanha Ocidental (o Reino Unido estava em outro projeto contemporâneo que teve o mesmo resultado – a Marvel criou uma sucursal em Londres, a Marvel UK, e desenvolveu um herói britânico: Captain Britain [embora já houvesse Black Knight antes]). Assim surgiu a ideia de criar uma equipe com membros de vários países, para “economizar” os esforços.

Landau entregava seus pedidos a Roy Thomas, o editor-chefe da época, que tentava viabilizá-las. Foi assim que aconteceu com Wolverine (em 1974), em que ele definiu o nome e os parâmetros iniciais do personagem e depois entregou o processo de criação para Len Wein (roteirista) e John Romita Sr. (diretor de arte da editora). Thomas repetiria o processo agora, embora tivesse um interesse particular na equipe de mutantes, da qual havia sido o último escritor e gostava dos personagens, mas não conseguia achar uma forma de revitalizá-los.

Thomas recrutou inicialmente o roteirista Mike Friedrich (então cocriador de Ghost Rider) e o desenhista Dave Cockrum. Cockrum era um nome em ascensão no mercado e entre os fãs na época, graças ao sucesso obtido como desenhista da Legion of Super-Heroes, pela DC. Devido a desentendimentos na concorrente, Cockrum acabou sendo recrutado pela Marvel, na qual andara fazendo edições avulsas de várias revistas – o projeto dos X-Men internacionais seria seu primeiro projeto em que seria o desenhista oficial.

E não faltavam ideias! Cockrum (que já faleceu) era definido como uma “usina de personagens”, pois sempre inventava personagens para “trabalhar depois” e os guardava em um arquivo. A propósito, seu senso estético era inovador para a época, sendo inclusive responsável pela “modernização visual” dos heróis da Legion of Super-Heroes, que depois se tornou sua representação icônica.

Mike Friedrich tinha seus próprios problemas pessoais com Roy Thomas e a Marvel, e logo deixou a editora. O trabalho foi repassado mais uma vez a Len Wein, que já estava atolado com vários títulos na época, mas contou com boa ajuda de Thomas (inicial) e Cockrum.

Thomas já havia definido praticamente 3 personagens já existentes: 2 que ele criou (Banshee e Sunfire) e 1 que ele cocriou (Wolverine). Com esses 3, ele já cumpria duas das cotas que Landau pedia: Japão e Canadá. O caso de Banshee, um representante de meia-idade irlandês, era mais um capricho de Thomas, que gostava do personagem (embora quisesse originalmente que fosse uma mulher, mas isso é outra história para outro post) e já queria há um bom tempo regenerá-lo (Banshee foi criado como um “vilão” dos X-Men, mas estava controlado mentalmente). Mas, se os X-Men eram jovens alunos, o que Banshee faria entre eles? Wein pretendia usá-lo apenas na primeira história e depois descartá-lo, transformando-o em um herói ocasional (o que não aconteceu).

Muito bem, faltava o mutante alemão e mais algum que pudesse ser desenvolvido. Aí entrou Cockrum. Pouco antes de sair da DC, Cockrum havia proposto um outro grupo de heróis do futuro, chamado Outsiders. Esses personagens seriam introduzidos na revista Legion of Super-Heroes, mas depois teriam sua série própria. Seriam personagens perseguidos por várias razões, mas que acabariam fazendo o bem, mesmo incompreendidos (lembram um outro grupo? hehe). A DC não aprovou o projeto, embora tenha mantido o nome (que lançou com um grupo de heróis fundado por Batman) e depois reciclado a ideia em dois outros títulos: Wanderers (um spin-off de Legion of Super-Heroes) e Omega Men (no “presente”). Cockrum não ficou com nada.

O próprio Cockrum tentou levar essa ideia adiante como uma revista independente (com a primeira história sendo publicada pela Marvel) – o projeto se chamou Futurians, mas não foi muito longe, principalmente pelas condições de saúde do desenhista.

O fato é que Cockrum aproveitou dois personagens de seus Outsiders para se tornarem X-Men: Nightcrawler (o qual ele aproveitou integralmente, nome e aparência) e Storm (na qual ele fundiu dois personagens que havia criado: Typhoon e Black Cat).

Nos Outsiders, Nightcrawler não era um mutante, mas sim um demônio propriamente dito. O que ele fazia em uma equipe de alienígenas, não sabemos. Seus poderes, porém, eram os mesmos e, agora, ele seria o mutante alemão que Al Landau queria.

Nos Outsiders, Storm era outra personagem, chamada Black Cat, com poderes felinos óbvios. Mas como já havia Wolverine com poderes animalescos na nova equipe de X-Men, Cockrum resolveu fundi-la a outro personagem desse grupo, Typhoon, que tinha poderes de controle climático. Assim, Storm manteve basicamente o visual físico (e o sexo) de Cat, com os poderes e uma variação do uniforme de Typhoon. Ela seria uma mutante africana, mais precisamente queniana (embora depois Chris Claremont a tenha transformado em americana criada no Egito e no Quênia).

Cockrum ainda criaria outros dois personagens: Colossus e Thunderbird. Thunderbird, o mutante apache foi uma criação totalmente nova e, embora não fosse “internacional”, pretendia cobrir mais uma etnia no grupo. Já Colossus era originalmente outro personagem criado por Cockrum, que era apenas um esboço e não estava incluído no “pacote” de Outsiders. Chamava-se Mister Steel.

O curioso era que o “Mister Steel” seria escolhido para representar a URSS, mas obviamente não havia distribuição de revistas Marvel por lá – logo esse país não estava na lista de atenção de Al Landau. E por que Wein insistiu com isso? Estava-se na época da Guerra Fria e os comunistas (principalmente soviéticos) eram os “vilões políticos” da vez nos quadrinhos (ocupando o lugar dos nazistas nos anos 1940). Porém, nos anos 1970, começaram a surgir as primeiras histórias envolvendo comunistas soviéticos que não eram vilões (e nem regenerados, como o caso de Black Widow). Esses personagens eram retratados como pessoas que acreditavam em seus ideais, embora questionassem como esses ideais eram manipulados pelos governos nem sempre bem-intencionados.

Wein já havia tocado nessas nuances da abordagem dos comunistas, saindo do maniqueísmo básico, em histórias do Hulk e tinha mais ideias sobre como desenvolvê-las (depois de sair da Marvel e ir para a DC, Wein continuaria essa experimentação na DC). Assim ele achou interessante ter um mutante soviético bastante poderoso, porém ingênuo e inerentemente de bom coração – estava criado o “embrião” conceitual de Colossus. Ao escolher “Mister Steel” como esse personagem, Wein achou que o nome não casava com a idade do personagem e o que pretendia fazer com ele – sugeriu então Iron Curtain (Cortina de Ferro, o nome como se designava o bloco de países comunistas europeus).

No entanto, Roy Thomas não achou conveniente esse nome, sugerindo o codinome Colossus. Thomas também teria sido o responsável pelos codinomes de Storm e Thunderbird (para quem não sabe a origem do nome “Thunderbird”, trata-se do nome de uma criatura mítica da América do Norte, comum a muitas nações indígenas – uma ave gigante).

Muito bem, estava definida a nova equipe de X-Men, mas como seriam introduzidos? Diretamente na série ou em alguma edição especial? E será que tudo transcorreria bem? Bom, ainda haveria alguns percalços e isso é o que veremos na terceira e na quarta parte deste post, com uma descrição da primeira história.

Fontes

Sanderson, Peter – Marvel Universe

Sanderson, Peter – Marvel Chronicle

Howe, Sean – Marvel Comics the Untold Story

Martin, Franck – Back Issue #83

Revistas referidas

A mudança acidental que tornou X-Men um fenômeno de vendas! – parte 1

Os X-Men foram criados em 1963, por Stan Lee e Jack Kirby – era um conceito diferente (embora não inovador) em que os super-heróis já nasciam com os poderes (eram mutantes!) e eram alunos de uma escola especializada! Os “homens com poderes extra” (daí veio o nome “X-Men” – porque, comercialmente, usava-se o termo “X-tra”, para produtos especiais) não fizeram lá muito sucesso logo de cara. Eram personagens cult para os fãs, mas ser cult não lhes garantia um sucesso de vendas. Então, desde o começo, assim como Daredevil e Captain Marvel, os X-Men eram as “ovelhas negras” do fenômeno Marvel dos anos 1960. Tinham até boas histórias, mas não eram campeões de vendas, o que os colocava sempre na linha de corte de cancelamentos.

E verdade que, nos anos 1960, os cancelamentos não eram necessariamente causados por baixas vendas – temos o caso da revista Incredible Hulk (1962), que foi cancelada na sexta edição porque a Marvel era distribuída pela National (atual DC) – e esta estabelecia um limita de títulos de revistas distribuídas, também para tentar conter a concorrência. Porém, mesmo assim, a coisa não era fácil com esses títulos que já citamos.

O caso de X-Men foi emblemático porque foi a primeira “desistência” de Lee e Kirby, que resolveram se dedicar a outros personagens. Para isso, entraram em seu lugar Roy Thomas (roteirista) e Werner Roth (desenhista). Thomas havia sido contratado por Stan Lee para ser seu assistente e estrearia como roteirista nessa série. Thomas era fã dos personagens e achava que podia dar jeito nos mutantes. Roth era um desenhista de histórias de romance (como John Romita Sr.) e estreava em histórias de super-heróis – por sua experiência com romance, as mulheres da série X-Men ficaram mais charmosas e sexy.

Thomas tentou chacoalhar as coisas em X-Men, inicialmente matando o Professor X e debandando a equipe, apresentando histórias solo ou em duplas dos mutantes – não empolgou. Tentou então retomar o status quo, “ressuscitando” Professor X (que havia morrido era o ex-vilão Changeling, fingindo ser o Professor) e reformando a equipe – também não mudou muito a situação. Foi apenas com a saída de Roth e a chegada de Jim Steranko e, depois, Neal Adams (além da criação de Polaris e Havok) que a coisa realmente começou a agradar… maaaaaassss… já era tarde. A revista estava com os dias contados.

Mesmo com Steranko e Adams no auge da badalação (os dois são lendas dos quadrinhos até hoje) e transformando os X-Men em representações fiéis do momento pop da época, a revista teve sua última edição com história inédita na edição #66 (março/1970). E a ordem era cancelar mesmo a revista, embora Thomas tenha conseguido emplacar sua continuação alguns meses após (a edição #67 saiu em dezembro/1970), mas como uma revista de reprints, reimprimindo histórias antigas.

A partir de então, os X-Men apareciam apenas como convidados em revistas de outros personagens e o Beast até ganharia uma curta série solo na revista Amazing Adventures (1970), a partir de 1972. A revista X-Men (1963) persistiria por quanto tempo sendo uma revista de reprints de histórias que não fizeram sucesso dez anos antes? Nem Roy Thomas, seu maior defensor sabia.

Thomas se tornou editor-chefe da Marvel em 1972 e pretendia resolver o problema dos X-Men, mas não conseguia pensar em uma forma de torná-los viáveis, já que não conseguiria manter a revista saindo, mesmo com reprints, por muito tempo. Enquanto isso, o presidente da Marvel na época, Al Landau, tentava expandir o alcance internacional da editora. Para isso, sugeria que a Marvel criasse heróis representantes dos países onde a Marvel vendia melhor – foi assim que surgiu Wolverine, por exemplo, como já vimos em outros posts aqui no blog (na série Origens Criativas).

Landau sugeriu que houvesse um herói canadense, para cativar os leitores do país vizinho. Thomas se encarregou então de desenvolver o nome (Wolverine) e a caracterização básica do personagem. Porém, a criação de fato foi entregue a Len Wein, então roteirista das histórias do Hulk. John Romita Sr, diretor de arte da Marvel na época, foi encarregado de desenvolver o visual do personagem. Wolverine foi lançado como um “inimigo” do Hulk em 1974, mas, na verdade, era um agente do governo canadense. Mesmo “sacana” e arrogante, era um “herói”. Não fez um sucesso tão estrondoso em sua primeira aparição (ao contrário da lenda que se tornou após seu desenvolvimento em X-Men), mas causou boa impressão.

Landau queria mais heróis internacionais, e surgiu a ideia de se fazer uma equipe de heróis internacionais – Thomas teve um estalo: por que não se poderia transformar os X-Men em uma equipe internacional? Pois é, a resposta estava ali saltitando na frente de todos e ninguém havia percebido… mas não pense que foi assim tão fácil a partir de então. Foi uma batata quente passando de uma mão para outra – sim… não foi fácil… mas estava “escrito nas estrelas” que aquilo geraria um novo megassucesso da Marvel.

É o que vamos ver na segunda parte deste post.

Fontes

Sanderson, Peter – Marvel Universe

Sanderson, Peter – Marvel Chronicle

Howe, Sean – Marvel Comics the Untold Story

Martin, Franck – Back Issue #83

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Uncanny X-Men (1963) #172-173 – Chris Claremont sacramenta seu próprio caminho nos mutantes

Chris Claremont é conhecido hoje como o X-Meister – é tido como o “pai” dos mutantes na Marvel. Ele não criou os X-Men, mas criou centenas de personagens desde que assumiu as histórias dos heróis mutantes em 1975, depois da grande reformulação feita por Len Wein, com seus “All-New, All-Different X-Men” em Giant-Size X-Men (1975) #1.

Claremont fez um ótimo trabalho com o desenhista Dave Cockrum (que também estava em Giant-Size X-Men), mas a série X-Men (1963) ainda continuava bimestral. Foi somente com a chegada do então desenhista John Byrne que os X-Men chegaram finalmente ao estrelato. Com arcos e histórias icônicos, Claremont e Byrne repetiram uma dupla criativa vitoriosa, com passagens memoráveis também em Iron Fist (1975) e Marvel Team-Up (1972). Só que, um dos segredos do sucesso era a interação criativa dos dois – a exemplo da dupla Stan Lee/Jack Kirby, a interação criativa resultou em histórias memoráveis.

Quando Byrne saiu de X-Men para assumir roteiro e arte em uma longa fase memorável em Fantastic Four (1961), Claremont ficou “órfão”. O roteirista já tinha provado sua competência sem Byrne antes, mas a mística de sua interação com Byrne comprometeu seus resultados. Nem mesmo o retorno de Dave Cockrum na arte reviveu o ímpeto criativo e a resposta dos fãs.

É verdade que as vendas de Uncanny X-Men (1963) (o nome do título mudou) não caíram e o título continuava sendo um dos grandes da Marvel, mas Claremont não conseguia entabular uma grande saga. Nem mesmo seu método característico de plots múltiplos desenvolvidos ao mesmo tempo estava encaixando.

Foi assim que Claremont iniciou uma longa saga dos X-Men no espaço enfrentando a Brood (nitidamente inspirada na saga Alien do cinema), ainda com Cockrum na arte. Embora o material seja bom, não decolava. Cockrum saiu antes da conclusão, sendo substituído pelo ótimo desenhista Paul Smith.

Smith começou sua carreira como desenhista de longas de animação e trouxe essa experiência consigo: seu traço é dinâmico, preciso, limpo e expressivo. Com a colorização certa, você tem a experiência de estar vendo fotogramas de uma animação. Em uma época em que o traço cinemático, limpo e influenciado pelo mangá de Frank Miller era uma das grandes inovações e tendências dos comics (com influência até hoje), Paul Smith se encaixava como uma luva nesse modismo.

Foi com Paul Smith que Claremont se reinventou nos X-Men, renovando seu fôlego por todos os anos 1980, em que reinou completamente, tornando os mutantes a grande “mania” da Marvel para as décadas seguintes. Curiosamente, Smith ficou no título por apenas 10 edições (em 11 meses). E isso, obviamente, não leva ninguém a concluir que uma influência direta de Smith nos roteiros tenha contribuído para esses resultados, mas parece ter destravado o que prendia Claremont ao passado com os mutantes.

Claremont realizou mudanças nos X-Men com Paul Smith: Kitty Pryde trouxe um dragão alienígena do espaço (Lockheed) e ainda se rebelou contra a decisão de Professor X de transferi-la para os New Mutants; Rogue entrou no grupo (e não era aceita por ninguém, principalmente Wolverine, que não perdoava o fato de ela quase ter matado Carol Danvers [Miss Marvel, hoje Captain Marvel]); e fez Storm se tornar líder dos Morlocks (mutantes sem teto que habitavam os subterrâneos de Nova York), com um duelo de punhais com Callisto (líder do grupo) icônico até hoje e mostrando uma Storm mais “letal”. Mas as mudanças mais “radicais”, que marcaram essa guinada, aconteceram nas edições #172-173 (agosto-setembro/1983).

Essas duas edições mostram os X-Men em Tóquio, para o casamento de Wolverine e Mariko Yashida. Falando em Frank Miller, essa história é uma “sequência” da primeira série solo de Wolverine, a minissérie Wolverine (1982), por Claremont e Miller. Nela, o pai de Mariko (Shingen Harada) se torna um dos líderes do submundo japonês e desafia Wolverine para que este prova sua “honra”. Wolverine mata Shingen e Mariko se torna líder do clã.

Ao mesmo tempo, Yukio (ex-affair de Wolverine, com uma atitude “diferente” com relação a riscos de morte) atua como ronin (samurai sem chefe), ajudando na tarefa, mesmo que Wolverine esteja apaixonado por Mariko.

Pois bem, mesmo com Mariko tendo de honrar os compromissos de seu pai com o submundo, ela vai tentar tirar a família aos poucos desse meio, com Wolverine como consorte, e os X-Men são convidados para a cerimônia de casamento xintoísta… só que todos são envenenados. Todos menos Storm (que estava em outro local de Tóquio, junto com Yukio, enfrentando Silver Samurai), Mariko (que devia se encontrar com Silver Samurai e sua parceira, Viper) e Wolverine e Rogue (que resistiram ao veneno).

Temos a revelação de que Silver Samurai é meio-irmão de Mariko, e requer o posto de líder do Clã Yashida – com a diferença de que ele quer usar o posto para se tornar o rei do crime japonês. Obviamente que Wolverine e Rogue terão de superar as diferenças e se unir para derrotarem a dupla do mal – e é o que aconteceu, com Rogue mostrando seu valor como X-Man para Wolverine).

Ao mesmo tempo, Storm está passando muito tempo com Yukio e, o estilo de vida “diferente” de Yukio está contaminando a mente de Storm, provavelmente já afetada pelo duelo de punhais com Callisto – resultado, Storm resolve encarar a vida de outra forma, usando seus poderes para ferir inimigos e vivendo sem medo da morte – é isso que faz com que assuma o visual “punk” com cabelo moicano, saindo completamente de seu passado como “deusa meiga e compassiva”.

Não bastasse isso, Storm e Yukio veem a forma da Phoenix em uma explosão… coincidência ou não, Madelyne Pryor é a nova namorada de Cyclops (que não sabe ainda que ela é um clone de Jean Grey)… alguma ligação? Claremont vai brincar por isso por meses e meses.

Finalmente, Mariko é atacada mentalmente por Jason Wyngarde/Mastermind (sim, o mesmo que “enlouqueceu” Phoenix, para que se tornasse a Dark Phoenix). Ele aparentemente se recuperou do estado catatônico em que foi deixado por Phoenix e agora está se vingando. Graças a isso, Mariko desiste do casamento durante a cerimônia, dizendo que Wolverine não é “honrado” – o que devasta Wolverine que é visto chorando.

A força dessas duas edições é enorme, decretando que limites foram ultrapassados e os X-Men têm novos parâmetros e novas situações à sua frente. Claremont se “livrou” do que ainda o prendia a Byrne e voltou à sua velha boa forma, com novos parceiros criativos. E não foi com uma ruptura, mas sim com o encontro do que desatava seu “nó criativo”.

Fontes:

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