As agruras de Chris Claremont em favor dos outros – parte 2

Chris Claremont retornou à Marvel ainda no final dos anos 1990 – mais precisamente, em 1998. Esteve em Fantastic Four (1998 ) e Wolverine (1988 ). Mas só retornaria a Uncanny X-Men (1963) e X-Men (1991) em 2000, na fase conhecida como “Revolution”.

Claremont não queria continuar de onde seus substitutos tinham parado (embora tivesse ajudado Alan Davis nos roteiros de forma não creditada) – para isso usou um recurso conhecido, mas sempre eficaz: um salto de seis meses na cronologia (embora não ligasse muito para o resto do Universo Marvel). Nesses 6 meses, várias coisas mudaram nos X-Men e ele iria mostrando retroativamente o que havia acontecido com o desenrolar dos plots. Mas “Revolution” não durou muito, terminando em fevereiro de 2001. A razão? o editor-chefe Joe Quesada havia conseguido Grant Morrison e Joe Casey para reformularem os X-Men. Grandes nomes (principalmente Morrison) chamados para alavancar as vendas e a atenção dos leitores. Não que Claremont não tivesse mais sua base de fãs, mas o alcance de Morrison seria maior, atraindo fãs de outros personagens e franquias – Morrison é até hoje um dos expoentes da “grife”, com um séquito de leitores que o segue para onde vai.

Mas Claremont não ficaria desamparado – Quesada lhe daria uma nova revista regular: X-Treme X-Men (2001).  Nesse novo título, Claremont poderia continuar seus plots (mais ou menos), mas com uma formação determinada, usando personagens que Morrison e Casey não escolhessem. Claremont ainda conseguiria reunir uma equipe considerável, com Storm, Rogue, Beast, Gambit e Psylocke, como base. O plot original seria a busca pelos diários de Destiny, com a previsão do futuro dos mutantes, e que estavam espalhados pelo mundo. Esse plot já havia sido iniciado desde a fase Alan Davis em Uncanny X-Men (1963). Claremont também finalmente incluiria Tessa nos X-Men como Sage, revelando que havia sido uma agente infiltrada no Hellfire Club por muitos anos, além de mostrar que ela possuía poderes mutantes de fato: capacidade de processamento computacional na mente, nível baixo de telepatia e poder de ativar poderes de outros mutantes (ou causar mutações secundárias).

Como de hábito, Claremont programou um ano de histórias para X-Treme X-Men… mas aí veio Morrison estragar a brincadeira. Grant Morrison queria usar dois personagens que não estavam disponíveis: ele queria usar Colossus e Moira McTaggert como membros dos seus “New X-Men”. O problema é que Quesada havia declarado o ano “sem retorno da morte” na Marvel – “dead is dead”, pelo menos em 2001… E Colossus e Moira estavam mortos na época. Não podendo usá-los, Morrison “transformou” Emma Frost, criando a mutação secundária que lhe deu o poder de se transformar em diamante; e precisava de um cientista para o grupo – e requisitou o Beast.

Cavalheiro como sempre, Claremont cedeu o Beast a Morrison, e ainda viabilizou a mudança de visual do personagem (graças a uma ativação de uma nova mutação do Beast por parte de Sage – surgiu o Beast “felino” inaugurado por Morrison). Beast participou do primeiro arco de X-Treme X-Men e, depois, para não perder um plot, Claremont lançou uma minissérie com Beast na equipe (já modificado) – X-Treme X-Men: Savage Land (2001).

A lei do “dead is dead” também atingiu Claremont em X-Treme X-Men (2001). Claremont queria se livrar de todos os desdobramentos da cronologia de Psylocke que ocorreram sem a sua supervisão (principalmente os efeitos da Crimson Dawn, que lhe deram a tatuagem vermelha no rosto). A ideia era matá-la e depois revivê-la “zerada” (apenas ainda como ninja oriental). E foi isso Claremont fez – fez com que o vilão Vargas a matasse… e ela ficaria morta por um tempo até voltar. O problema é que o “dead is dead” impediu que ela voltasse. Claremont só conseguiu trazê-la de volta quando retornou pela segunda vez a Uncanny X-Men (1963), lá em 2004. E aí Psylocke voltou como ele queria, pelo menos.

Joe Casey também teve sua ingerência no trabalho de Claremont em X-Treme X-Men, mas, nesse caso, o problema foi de Claremont e, principalmente, dos editores. Mastermind era um vilão importante da cronologia dos X-Men, mas havia morrido como vítima do Legacy Virus. Assim, Jeph Loeb criou uma nova Mastermind, a filha do original, Martinique Wyngarde, na minissérie Wolverine/Gambit: Victims (1995), e Casey resolveu reutilizar a personagem em seus plots em 2001 em Uncanny X-Men (1963).

Até aí nenhum problema. O problema foi que, curiosamente, Claremont resolveu usar a mesma personagem ao mesmo tempo em X-Treme X-Men, em uma situação totalmente diferente. Os editores não gerenciaram a situação e, quando o problema apareceu, Claremont preferiu fazer uma ligeira alteração na personagem em vez de ser “proibido” de usá-la – assim surgiu outra filha de Mastermind, Regan Wyngarde, com o codinome de Lady Mastermind.

Finalmente, ainda havia outro plot pendente que Claremont desistiu. Na fase “Revolution”, Claremont mostrou Kitty Pryde se perdendo no espaço com uma armadura Neo. E o que aconteceu com ela? A ideia original de Claremont era fazer com que os X-Men fossem atrás dela depois da conclusão do plot dos Neos. Mas os editores mudaram os planos (por influência do primeiro filme dos X-Men). Os X-Men e seus plots seriam reunidos. Com essa decisão, Claremont então planejou uma minissérie, que se chamaria X-Men: Shadowcat – Captains Courageous, que mostraria Kitty entrando para os Captains Courageous, uma “polícia extradimensional” especializada em resolver crises em realidades alternativas. A ideia era apresentar a minissérie para resultar em uma nova série regular (alguma semelhança com Exiles? hehe).

Aliás, essa ideia dos Captains Courageous já era reciclada. Claremont já havia pensado nisso com Nightcrawler em vez de Kitty, lá na época de Excalibur (1988). Mas não foi para frente. Porém, desta vez, Claremont já tinha até desenhista definido (era Lee Moder) e plots definidos. No entanto, mais uma vez, os editores cancelaram o projeto do dia para a noite. Scott Lobdell trouxe Kitty de volta sem explicar o que havia acontecido, e Claremont retomou a personagem na minissérie Mekanix (2002) e depois colocando-a em X-Treme X-Men, sem revirar o passado. Ficou aí um grande mistério da personagem.

Como falamos anteriormente, Claremont ainda retornaria mais uma vez a Uncanny X-Men (1963) em 2004, permanecendo até 2006 (quando trouxe Psylocke de volta e fechou algumas pontas soltas históricas, como o antigo plot da Fury e de Mad Jaspers, que Alan Moore “impediu” lá nos anos 1980 – mas isso é outra história para outro post… hehe), mas já não se preocupava mais em “endireitar” os personagens, desfazendo o que outros fizeram. Para isso ele usaria X-Men Forever (2009) e X-Men Forever (2010), que ficariam fora de cronologia.

Fontes:

Howe, Sean – Marvel Comics the Untold Story

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #84

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #138

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #208

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #381

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #411

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #413

4 respostas em “As agruras de Chris Claremont em favor dos outros – parte 2

    • Hehe… eu já falei algumas vezes de como Alan Moore atrapalhou os planos de Chris Claremont em X-Men nos fórums, facebook, etc… Mas fica anotado aqui. Só pra dar uma ideia, Claremont retomou essa ideia, com uma versão enxuta dos planos, em sua última passagem pelos X-Men (com a morte de Jamie Braddock).

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      • Beleza. Dei uma rápida pesquisada e lembrei de Fury e Mad Jasper. Mesmo sendo quase um unioverso paralelo, o Marle UK, o Moore atrapalhava, hein? Valeu.

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      • Fury e Mad Jasper eram de uma realidade alternativa, mas isso não era o Marvel UK. O “selo” Marvel UK ocorre, em sua maior parte, no universo principal da Marvel (o 616) mesmo. O que aconteceu, em poucas palavras, é que havia receio de que Alan Moore criasse caso com o uso desses personagens, alegando ter participação nos direitos autorais. Claremont foi orientado a abandonar os planos na época por causa disso.

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