As agruras de Chris Claremont em favor dos outros – parte 1

Chris Claremont não é chamado de “X-Meister” à toa, pois é responsável em grande parte pelo sucesso de X-Men e dos mutantes em geral da Marvel hoje. Essa alcunha ele ganhou em sua primeira e longa temporada nos X-Men (e New Mutants, X-Factor e Excalibur, além de Wolverine…) entre 1975 e 1991. Sim, foram quase 17 anos ininterruptos em X-Men. E isso seria suficiente para que “mandasse e desmandasse” nos X-Men quando retornou nos anos 2000? Não.

O “domínio” (merecido) de Claremont como maior autoridade no mundo dos títulos mutantes começou a ser desafiado ainda no final de sua primeira temporada, lá em 1991. Na época, Claremont estava em uma parceria famosa com Jim Lee, na revista Uncanny X-Men (1963). E o editor-chefe da Marvel, Bob Harras, estava animadíssimo com os recordes de vendas da série Spider-Man (1990), escrita e desenhada por Todd McFarlane. Embora não fosse exatamente novidade ter uma revista escrita e desenhada pelo mesmo profissional, McFarlane fazia parte da “elite” dos novos desenhistas da editora – aliás, os membros dessa elite formariam a editora Image e ditariam as tendências do mercado nos anos seguintes.

McFarlane rendia rios de dinheiro, assim como Rob Liefeld, Marc Silvestri e Jim Lee (os principais nomes) e, o lançamento de Spider-Man (1990) apontou mais de 1 milhão de vendas na primeira edição – algo já impensável na época. Mesmo com o auxílio de “gimmicks” como capas alternativas e metalizadas (estávamos no início da bolha especulativa do mercado americano de comics), McFarlane sinalizava a mensagem que a sua “grife” estava sendo mais importante para os leitores. E Harras entendeu o recado. Teve a ideia de aumentar o destaque desses novos profissionais e capitalizar em torno de seus nomes. Liefeld ganhou a oportunidade de relançar New Mutants como X-Force, junto com o roteirista Fabian Nicieza; e Jim Lee receberia a oportunidade de lançar o segundo título regular dos X-Men (apenas X-Men (1991)), em parceria com Claremont.

Claremont então expandiu seus planos de longo prazo para abarcar os dois títulos de longo prazo. Segundo consta, já havia planejado cerca de dois anos de história, com dois plots, sempre envolvendo seus plots e subplots em constante evolução. Um desses plots já estava tendo pistas: seria uma megassaga em que Shadow King dominaria boa parte da população (começando pelo Senador Kelly e depois envolvendo o governo dos EUA), que se voltaria contra os X-Men. O alvo principal de Shadow King seria controlar Legion (o filho de Xavier) e, na batalha final, teríamos a morte do Professor X, com Magneto retomando mais uma vez uma posição de “líder não confiável” do grupo. Em todo esse plot, seria revelado que Tessa era uma agente de Xavier infiltrada no Hellfire Club (o que, de fato, aconteceria depois em X-Treme X-Men (2001), também do Claremont).

O outro plot envolveria Wolverine sendo morto por Lady Deathstrike e sendo revivido pela Hand, se tornando um agente “maligno”. Wolverine se voltaria contra os X-Men, teria as garras destruídas por Colossus, receberia novas garras pela Hand e, finalmente, desenvolveria novas garras naturais… Lutando contra o condicionamento, principalmente com uma aproximação entre ele e Jean Grey, Wolverine voltaria ao normal. Parece o plot de Mark Millar para Wolverine em “Enemy of the State”, não? Sim, muito. Mas a morte e a ressurreição de Wolverine como vilão já aconteceriam antes de Millar, quando Wolverine foi transformado em Death por Apocalypse.

Tudo iria acontecer se… não fosse Jim Lee. Lee queria mais participação nos plots, queria ser o corroteirista. Claremont aceitou, mas obviamente deveriam se organizar – depois da ideia geral da história, Lee deveria apresentar os esboços a Claremont para fazerem ajustes antes da versão final. E Lee não conseguia fazer isso em tempo hábil. Com o prazo estourando, Claremont tinha de finalizar as histórias correndo.

O problema chegaria a Bob Harras, que defenderia Jim Lee. Claremont deveria apenas fazer os diálogos finais no que Lee desenhasse após a ideia geral da história (método Stan Lee puro…). Claremont resolveu então renunciar a X-Men e respirar novos ares (DC). Mas não sem antes “matar” o plot do Shadow King em Uncanny X-Men (a Shadow King Saga que conhecemos, que deixou Xavier paraplégico novamente) e auxiliar Jim Lee no primeiro arco da nova revista X-Men (1991). Terminado esse arco, Fabian Nicieza assumiu seu lugar como “corroteirista” de Jim Lee. E o primeiro arco de X-Men (1991) bateu o recorde de vendas de Spider-Man (1990) – com 5 capas alternativas para colaborar.

Bom, Claremont voltaria a Uncanny X-Men (1963) em 2000. Mas ainda teria de se curvar aos caprichos dos outros, como veremos na parte 2.

Fontes:

Howe, Sean – Marvel Comics the Untold Story

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #84

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #138

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #208

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #381

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #411

Cronin, Brian – Comic Book Legends Revealed #413

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