A “batalha final” entre Adam Warlock e Thanos – que seja eterna enquanto dure – parte 2

Conforme já discutimos no post anterior (parte 1), Jim Starlin inovou nos comics com suas histórias espaciais/cósmicas carregadas de questionamentos metafísicos, filosóficos e religiosos. O que na época nos parecia algo profundo, hoje percebemos que não era assim tão profundo, mas mesmo assim esses conceitos foram semeados para os leitores.

O símbolo da produção “cósmica” de Starlin é um dos personagens que criou – Thanos – que está em quase todo esse material. Como já dissemos antes, Thanos já havia sido a grande ameaça da saga de Captain Marvel (Mar-Vell), em que, apaixonado pela personificação da Morte, tentou se tornar onipotente usando um cosmic cube. Aparentemente desintegrado no final da história, Thanos reapareceu nas histórias de Adam Warlock, mas, originalmente, atuou como um aliado pelas circunstâncias.

De temperamento forte, Starlin saiu da série do Captain Marvel brigado, mas após negociações, decidiu permanecer na Marvel, com carta branca para escolher que personagem quisesse para trabalhar – e ele escolheu o então obscuro Adam Warlock. Starlin partiu do seguinte pressuposto: transformou Captain Marvel de guerreiro em messias – ao escolher Adam Warlock, ele pretendia transformar um messias em um esquizofrênico paranoide.

De fato, Starlin usou Warlock para “radicalizar” sua abordagem. Sendo um personagem de quarto escalão, não haveria comprometimento do “mythos” ligado a ele. E, mesmo assim, Warlock nem mesmo foi descaracterizado: criado como por Stan Lee e Jack Kirby como um ser humano “perfeito”, porém, ingênuo, Warlock foi para o espaço para compreender o universo. Depois, quando começaram suas histórias solo, Roy Thomas, Mike Friedrich e Len Wein o levaram para a Counter-Earth, um planeta semelhante à Terra, porém povoado pelos New Men (animais humanizados) criados pelo High Evolutionary e lá se tornou uma alegoria de Jesus Cristo. Combatendo o mal (representado pelo Man-Wolf, um New Man que foi corrompido pelo mal), Warlock foi crucificado e ressuscitou!

Portanto, quando Starlin começou a mexer com questionamentos religiosos e metafísica, não houve um distanciamento da proposta original de Warlock, apenas uma modificação de rota. E, de fato, a caracterização “definitiva” do personagem acabou sendo essa – a exemplo do que Frank Miller fez com Daredevil e Chris Claremont fez com os X-Men, Starlin tornou Adam Warlock um personagem viável e praticamente se transformou em seu “criador”, como marco de referência.

Voltando à participação de Thanos nas histórias de Adam Warlock produzidas por Jim Starlin, Thanos se tornou um “aliado circunstancial” de Warlock em seu combate com à Universal Church of Truth, uma religião intergaláctica liderada pela contraparte futura e maligna de Warlock, Magus. Porém, na verdade, ele estava desenvolvendo um novo estratagema para conquistar a morte, agora tentando reunir as seis Infinity Gems – das quais uma estava na testa de Adam Warlock: a Soul Gem.

Enquanto essa e outras histórias de Warlock aconteciam, Thanos ia burilando seu novo plano de agradar à Morte – um “genocídio estelar”. Sim, Thanos queria apagar todas as estrelas do universo! E estava usando as Infinity Gems para isso, fundidas em uma megajoia artificial (apesar de o próprio Starlin ter criado a Infinity Gauntlet anos depois, que seria muito mais poderosa que uma construção artificial).

Tudo levava ao grande confronto final entre Warlock e Thanos que, no entanto, não aconteceria na série de Warlock (que seria cancelada, por baixas vendas…). Nesse período, era comum na Marvel que séries canceladas antes do fim de seus arcos concluíssem esses arcos em outras séries. A “batalha final” da space opera de Starlin se daria em dois anuais: Avengers (1963) Annual #7 (setembro/1977) e Marvel Two-in-One (1974) Annual #2 (dezembro/1977).

No entanto, parece que Starlin não gostou muito, principalmente porque teria de incluir os personagens titulares das séries (Avengers e Thing – como Marvel Two-in-One era uma revista de team-up do Thing, e, com isso, também havia o herói convidado, Spider-Man, que se tornaria o principal herói da história.). Essa pode ser uma das razões porque essas histórias são tecnicamente rasas.

Como já falamos na primeira parte do post, temos a memória afetiva de termos lido a conclusão de uma grande saga. E, de fato, essa “batalha final” está entre as maiores batalhas da Marvel escolhidas pelos fãs! Mas, passados 40 anos… parece que não era tão bem escrita assim.

Mas, conhecendo Starlin como conhecemos hoje, isso pode ter sido proposital e, mesmo não tendo a mesma qualidade anterior, fez muito sucesso e teve muito impacto, pelo próprio prestígio de Starlin na época.

Começando com a morte de Gamora (cuja alma é absorvida pela Soul Gem), Adam Warlock pede ajuda aos Avengers, que já foram “convocados” pelas entidades conceituais Lord Chaos e Master Order (criados por Starlin). Nesse ínterim, Pip o Troll também tem a mente obliterada por Thanos e tem a alma posteriormente absorvida pela Soul Gem. Os Avengers tentam barrar a invasão do Sistema Solar pela esquadra de Thanos. Warlock, Thor e Captain Marvel (Mar-Vell) combatem Thanos enquanto Iron Man destrói a superjoia artificial. Thanos foge, mas Warlock cai em combate – e sua alma é absorvida por uma contraparte extratemporal dele mesmo (!?).

Os Avengers são derrotados e capturados por Thanos quando ele retornou em seguida, pretendendo destruir o Sol com a Soul Gem sozinha! Lord Chaos e Master Order então “convocam” Spider-Man, que se junta ao Thing para viajar ao espaço e enfrentar Thanos. Spider-Man liberta os Avengers e encontra a Soul Gem, de onde Lord Chaos e Master Order convocam a alma de Warlock para derrotar Thanos… transformando-o em uma estátua de granito (?!).

De novo, percebe-se que Adam Warlock e todo o seu drama metafísico ficaram em segundo e/ou terceiro plano. Devido a isso, Starlin deixou a história rasa, provavelmente em protesto por ter de terminar sua epopeia dessa forma. Mas, para os leitores da época, foi uma história marcante.

Como já foi dito na primeira parte do post, se formos prestar bem atenção, as histórias de Starlin em Captain Marvel e Adam Warlock não eram tão profundas, mas para o público-alvo mais jovem, já eram mais profundas que o usual.  Starlin amadureceria a partir da década seguinte, mas mesmo assim deixou uma marca indelével nesses personagens.

Starlin também seguiu o modelo de Frank Miller, ao “matar” seus personagens para deixá-los indisponíveis para a Marvel utilizar depois. Era uma época em que “voltar da morte” era algo mais incomum que hoje nos comics. E, por ironia do destino, foi o próprio Starlin que trouxe todos eles de volta em 1991, quando começou a produzir o evento Infinity Gauntlet (1991).

Fontes:

Revistas Referidas

Howe, Sean – Marvel Comics – The Untold Story

Sanderson, Peter – Marvel Chronicle

Wikipedia

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