O caso de Jubilee – o raio não cai duas vezes no mesmo lugar… – parte 2

Como dissemos na primeira parte deste post, Jubilee foi concebida com a missão de ser a nova Kitty Pryde, em sua intenção de despertar a identificação juvenil do leitor adolescente com a história. Por mais que a eficiência dessa técnica seja discutível em seus resultados, é empregada comumente na indústria do entretenimento, seja quadrinhos, literatura, TV, cinema ou mesmo games. Só que, no caso de Jubilee, pulou-se a fase de “mascote” dos X-Men para torná-la sidekick de Wolverine logo no início – sua participação como “mascote” seria consequência disso.

De fato, Jubilee foi criada em 1989 por Chris Claremont e Marc Silvestri (na época, Kitty Pryde já estava aparecendo regularmente nas histórias do Excalibur) assumidamente como sidekick e, embora não tenha surgido com seu uniforme característico, já se sabia que ela o assumiria logo – e esse uniforme era admitidamente inspirado no de Robin, o sidekick mais famoso da história, que acompanhou Batman em várias encarnações.

Jubilee é seu “nome artístico”, já que o nome real é Jubilation Lee. Filha de imigrantes chineses de Hong Kong, recebeu seu nome em celebração ao sucesso profissional e social que seus pais obtiveram nos EUA atuando no ramo bancário. Assim como Kitty Pryde representava a minoria judia, Jubilee representava a minoria chinesa, cada vez maior na Costa Oeste dos EUA. O brilhantismo de Jubilee se dava nos esportes olímpicos, onde brilhava em competições de ginástica… mas aí veio a tragédia: seus pais foram mortos por assassinos de aluguel a serviço de um chefão do crime irritado por eles não admitirem lavar dinheiro. Jubilee ficou órfã, mas se recusou a ficar sob custódia do Estado até encontrar uma nova família. Fugiu para onde se sentia bem, um shopping.

Sim, Jubilee representava outra “mania” da época, os mall rats. “Mall rat” (rato de shopping) era o nome dado aos adolescentes que passavam o dia inteiro nos shopping centers. Isso não deixou de existir até hoje, mas na época era uma verdadeira febre, um fenômeno social. E, se escondendo em um shopping em Beverly Hills, Jubilee acabou revelando seus poderes mutantes ao escapar de um vigia: “fogos de artifício de plasma”.

Mesmo sendo poderes menos “inofensivos” que os Kitty Pryde, não havia muita praticidade nos fogos de artifício de Jubilee – mas eram vistosos, como um adolescente extrovertido gosta de ser. Jubilee passou a viver de “espetáculos” de seus poderes nos corredores do shopping, enquanto sobrevivia nas tubulações de ar condicionado com alimentos e roupas roubados. E isso perturbou a direção do estabelecimento, que contratou uma equipe de “exterminadores de mutantes” para se livrar da praga.

Só que eles apareceram justamente em um dia em que a parte feminina dos X-Men foi visitar o shopping: Storm, Dazzler, Psylocke e Rogue enfrentaram os “exterminadores” trapalhões e voltaram para a Austrália depois das compras… peraí… Austrália? Sim, nessa época os X-Men foram dados como mortos (após o confronto com o Adversary em Dallas) e “conquistaram” a base dos piratas tecnológicos Reavers no meio do outback australiano, de onde tinham acesso a todo o mundo por meio dos portais de teleporte do mutante Gateway. E Jubilee pegou carona no portal…

Jubilee passou a atuar na base dos X-Men da mesma forma que atuava no shopping – vivendo nas sombras e roubando comida e roupas. Até que os X-Men debandaram e Wolverine chegou sozinho à base, retomada pelos Reavers… que o crucificaram no meio do deserto. Foi o momento de Jubilee se revelar, salvar Wolverine e estabelecer seu elo com o “mentor”.

A partir de então Jubilee se tornou personagem frequente das aventuras de Wolverine e, por extensão, participou da reunião dos X-Men – bem a tempo da estreia da primeira série animada dos X-Men na TV (1991). Nela, Jubilee assumia desde o início o papel de “mascote” de Kitty Pryde e, com a série fez imenso sucesso, ela também passou a estar presente em todo o merchandising derivado. Jubilee teve toda a sorte de ser criada no momento certo para uma explosão transmidiática e virar um sucesso, certo? Não muito.

Jubilee não gerou empatia, nem como sidekick e nem como “mascote”. Sua atitude exibicionista e irresponsável, embora fossem bem de adolescentes, não pegou e a personagem se tornou irritante. Jubilee continuou nos X-Men enquanto a série animada durou, na esperança de que a maré virasse, e não virou.

Então veio a estratégia de amadurecê-la, que também já tinha funcionado com Kitty. O roteirista Scott Lobdell estava lançando a boa série Generation X (1994), que tentava atualizar o conceito de New Mutants, e Jubilee foi para lá, para conviver com outros mutantes de sua idade. Jubilee ficou na revista em toda a sua duração (até a edição #75 [maio/2001]) e amadureceu, tornando-se até líder da equipe… maaaasssss… não estava entre os personagens que foram aproveitados pelos roteiristas de X-Men nas outras revistas (estes foram Chamber, M e Husk). Jubilee entrou em um longo período de ostracismo, reaparecendo aqui e ali (até mesmo ganhou uma série de 6 edições em 2004), mas não se fixando em nada.

O mais trágico aconteceu em 2006, quando Jubilee deixou de ser mutante, sendo uma das vítimas do “M-Day”, o dia em que Scarlet Witch disse a famosa frase “No more mutants” (no final do evento House of M (2005) e eliminou a maioria das (super)mutações da humanidade. Ainda se tentou transformá-la na administradora de uma casa de abrigo de ex-mutantes, mas sem sucesso.

Em 2007, Jubilee foi reciclada como uma nova heroína, chamada Wondra, líder de campo de uma formação alternativa de New Warriors que empregava ex-mutantes usando tecnologia abandonada por supervilões. No caso de Jubilee/Wondra, ela usava as superluvas gravimétricas de Wizard, que lhe concediam superforça, certo grau de invulnerabilidade e, obviamente, a capacidade de disparo de discos antigravidade típicas do vilão. Wondra teve vida curta, assim como essa série de New Warriors (cancelada na edição #20 [março/2009]).

E aí veio a “grande sacada” – que tal colocá-la em outra “minoria” de superpoderosos? Não havia ainda a saída de transformá-la em uma inhuman, como há hoje… mas na época a Marvel estava tentando pegar carona na “vampiromania” do filme Crepúsculo – então os X-Men enfrentaram Xarus, filho de Drácula na fase Curse of the Mutants (2010). Resultado? Jubilee virou uma vampira, com todos os poderes típicos!

A Marvel até mesmo lançou uma minissérie (Wolverine and Jubilee (2011)) para usar Wolverine para ajudar na adaptação de Jubilee à sua nova condição e ela passou a aparecer na revista de X-23 (a clone adolescente de Wolverine) e… nada acontecia. Jubilee não emplacava.

A última grande tentativa foi tornar Jubilee uma mãe e amadurecê-la de vez – Jubilee adotou um bebê (chamado Shogo) que inicialmente abrigava uma bactéria mutante senciente (Arkea, irmã de John Sublime) e participou de uma formação quase exclusivamente feminina dos X-Men, no confronto da criatura. Jubilee e Shogo apareceram depois disso como coadjuvantes de histórias de Hellcat e, agora, estão na nova série Generation X (2017), em que Jubilee é “orientadora” de uma nova turma de jovens mutantes… com poderes “inúteis”… hehe

E Jubilee ganhou empatia? Não. Se antes ela incomodava por seu exibicionismo e sua impulsividade, ela se tornou uma personagem depressiva, amargurada e reclamona desde que perdeu os poderes mutantes. Vários personagens levaram anos para encontrar um criador que conseguisse a caracterização exata para cativar o público… Jubilee ainda não chegou lá… e olha que ela teve toda a chance do mundo.

Fontes:

Official Handbook of the Marvel Universe

Wikipedia

Revistas e séries referidas

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